As meninas precisam arrumar a casa e os meninos? Homem que é homem chora? 
Uma das atividades que continuamos executando na Escola é a da Contação ou leitura de histórias. Estamos semanalmente atendendo alunos das 16 turmas do I ciclo (faixa etária de 05 a 10 anos).
A segunda história que escolhemos para apresentar aos alunos foi "Aninha e João".
O tema escolhido para a definição desta história foi as relações de gênero. Acreditamos que como educadoras temos o dever de contribuir com a superação das relações de poder em que o princípio masculino é tomado como parâmetro universal e hierárquico.
A Escola de forma lúdica e prazerosa pode contribuir para problematizar os papéis masculinos e femininos, usamos como recurso as histórias infantojuvenis, que mostram e questionam se realmente existe um papel (in)adequado para o homem e para a mulher.
 Um livro de Lúcia Miners/Paula Yne.
 
- Meninas não sobem em árvores! Não é nada bonito!
 
A mãe ensinou para Aninha:
 
- Menina boazinha deixa o que é seu arrumado!
 
Depois que voltou do colégio, João fez os deveres, deixou os
livros e cadernos espalhados em cima e foi brincar.
 
- Minha filha, arrume as coisas do seu irmão, por favor.
 
Aninha foi brincar na rua depois do colégio.
 
Esqueceu da hora, com brinquedo tão bom, e chegou tarde em
casa.
 
- Menina não anda no escuro sozinha! Que absurdo!
 
Quando entrou em casa, a lua apontava no céu.
 
O pai disse para as visitas:
 
- João já é um homenzinho! Não tem mais medo do escuro!
Todos ficaram contentes.
 
A mãe pediu para João ir na esquina, buscar laranjas.
 
- Aninha pode ajudar? São muitas laranjas e se nós dois
carregarmos, vão ficar mais leves.
 
- Que é isso, João? Será que você não tem força para trazer
as laranjas sem a ajuda de uma menina?
 
João foi, trouxe as frutas, mas ficou com os braços doendo
de tanto peso que carregou sozinho.
 
- O que você quer ser quando crescer, Aninha?
 
A professora balançou a cabeça:
 
- Isso não é profissão para meninas!
 
- Eu também quero ser comandante de navio!
 
- Muito bem, João, esta é uma profissão muito  bonita!
 
Aninha foi brincar de boneca no quintal.
 
Chamou João para ser o pai da boneca.
 
- Ora, João, um homenzinho como você, brincando de casinha!
Vá fazer uma coisa importante!
 
E entrou para cuidar da casa.
 
Na volta do colégio, Aninha e João vinham correndo.
 
Tropeçaram numas ripas que estavam jogadas no meio da
calçada.
 
Aninha esfolou o joelho e João, o braço.
 
Chegaram em casa chorando.
 
A mãe botou Aninha no colo e falou:
 
- Coitadinha da minha filhinha!
 
A mãe foi buscar curativos.
 
Tratando do braço de João e do joelho de Aninha, ia dizendo:
 
- Que é isso, João? Chorando à toa?
 
Homem que é homem não chora por uma bobagem dessas!
 
- Pare um pouco de pular corda, Aninha, e venha me ajudar a
fazer o arroz!
 
João veio também e quis fazer os bifes.
 
- Aproveite o sábado, meu filho! Vá brincar!
 
- Que coisa mais enjoada é ser menina!
 
Vestiu o paletó do pai, botou gravata e avisou:
 
- Pronto! Agora sou um menino e meu nome é Seu Mário!
 
A mãe botou a boca no mundo:
 
- Que maluquice é essa, menina?
 
- Não quero mais ser menina! Meu nome é Seu Mário!
 
O pai chegou em casa com o jornal embaixo do braço.
 
- Que é isso, minha filha?
 
- Não quero mais ser menina! Meninas são podem fazer nada,
só chorar! Não é divertido!
 
- E o que você quer fazer? – interessou-se o pai.
 
- Quero subir em árvores, não ter medo do escuro. Não quero
ficar andando atrás do João, arrumando as coisas que ele espalha. E quero ser
comandante de navio quando crescer!
 
O pai pensou, pensou e perguntou:
 
- Você sabe fazer essas coisas?
 
- Comandante de navio, não sei se sei. Mas sei subir em
árvores, sei andar no escuro sem medo. Sei ajudar o João a carregar as compras
e o João pode arrumar suas coisas.
 
O pai chamou a mãe, conversaram de cochicho e depois
disseram para Aninha: 
 
- Pois vamos experimentar.
 
Aninha correu para subir na mangueira:
 
- Aninha já estava lá no alto, quando respondeu:
 
- O João também pode cair e ele sobe!
 
- E se o bicho-papão pegar você no escuro? – perguntou a
mãe, meio rindo, meio série.
 
- Ele pode pegar o João também!
 
No feriado, João arrumou suas coisas e fez os bifes.
 
Aninha arrumou suas coisas e fez o arroz.
 
Os dois pularam corda e jogaram bola.
 
Aninha deu um banho na boneca.
 
João arrumou a caminha para ela.
 
Aninha tirou a gravata do pai, o paletó e guardou-os no
armário.
 
No dia seguinte, João e Aninha vestiram os uniformes e foram
para o colégio.
 
João disse para todo mundo ouvir na classe:
 
- Eu e Aninha vamos ser comandantes de navio quando formos
grandes. Quando o meu navio passar pelo dela,
 
 vamos tocar as
sirenes para dizer bom-dia. Assim: UUUOOOOMMMMMM! UUUOOOOOOMMMMM!!!!!
 
Todos os meninos e meninas gritaram: - Nós também!
UUUOOOMMMM!!! UUUOOOOOOMMMMM!!!! OOOOOOUUUUOOOOMMMM!!!!
 
O pai arrumou suas coisas antes de ir para o trabalho. 
 
A mãe teve tempo de ler um livro engraçado.
 
No jantar, ela trouxe para a mesa uma sobremesa enfeitada.
 
João varreu as migalhas que caíram no chão.
 
Aninha e João tomaram conta da casa.
 
Seu Francisco e Dona Laurinda foram ao cinema.
 
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