domingo, 24 de novembro de 2013

Mitologia Iorubá -Oduduá e a briga pelos sete anéis - Consciência Negra e mulheres


Estas duas últimas semanas a Escola em que atuo desenvolveu a temática sobre a Consciência Negra. Entre outras atividades, apresentei aos alunos 3 lendas da mitologia Iorubá; e a opção por estas histórias e não outras, é que estas enfocam o poder e a força do feminino.

A maioria das histórias apresentadas neste blog foram lidas, contadas e trabalhadas com os alunos em sala de aula. 

Assim como muitos dos livros infantojuvenis aqui apresentados são publicações enviadas pelo MEC às Escolas públicas.








Em uma das versões da mitologia Iorubá, Oduduá se refere a um orixá feminino,  a esposa de Oxalá, rainha da Terra. Já outros a classificam como sendo uma qualidade do próprio Oxalá.

Na história abaixo, parte da vertente que considera Oduduá uma divindade feminina, da criação e do útero da terra. 
Ela é considerada, ao lado de Obatalá como o casal primordial e propulsor da criação. 

O universo é visto dentro do culto aos Orixás como uma grande cabaça, e esta é representada por Oduduá e Obatalá.




Oduduá é a parte de baixo da cabaça e Obatalá é considerado como a parte de cima.

Nos primórdios da criação a única coisa existente nos mundos era o Olorun a grande energia primordial. Oduduá, surgiu do corpo de Olorun, assim como Obatalá e outras divindades.

Foi Oduduá quem criou a Terra e todo o universo ao lado de Obatalá, eles possibilitaram o surgimento da vida.



Oduduá e a briga pelos sete anéis



Oduduá tinha uma beleza rústica e não gostava de se enfeitar. 
Ela era a Terra e tinha a força da Terra e a cor da Terra. Desde criança, Oduduá só teve dois desejos: ficar para sempre a habitar a sua cabaça e possuir os sete anéis. 
Possuía como atributos a rapidez e a determinação. Era uma guerreira que saía em busca do que desejava. Suas cores preferidas eram o marrom e o vermelho.

Oduduá era uma princesa linda e Obatalá era um lindo príncipe.
Antes de o Céu e a Terra existirem, eles já existiam e moravam dentro de uma cabaça.
A cabaça não era grande e eles tinham que viver muito apertados lá dentro e um tinha que ficar em cima do outro.


Todas as noites, o príncipe Obatalá decidia que a princesa  Oduduá deveriam dormir embaixo dele.
- Princesa Oduduá, ordeno que você durma novamente embaixo de mim – exclamava Obatalá.
 - Príncipe Obatalá, eu ordeno que você pare de ordenar. Temos que chegar a uma decisão comum- retrucava a princesa Oduduá.

Mas  isso não era o suficiente para o príncipe Obatalá mudar sua forma de agir. Tudo tinha que acontecer do jeito que ele havia planejado.
Eles ganharam de um parente próximo sete anéis de ouro e tinham que dividi-los. Mas sete é número ímpar e sua divisão não dá um número igual para cada pessoa.



O príncipe Obatalá ordenou:
- Quem dormir em cima fica com quatro anéis nos dedos; quem dormir embaixo fica com três anéis nos dedos. Eu ordeno que, novamente, eu durma em cima, porque eu sou a pessoa certa para ser o Senhor dos Anéis.
E assim foi feito. E foi feito assim por muito tempo. 

Um dia, antes  de decidirem quem ficaria com os três ou quatro anéis, a princesa Oduduá falou:
- Príncipe Obatalá, eu não aceito mais esta imposição sobre mim.  Não é por que você é homem que deve sempre ter sua vontade atendida. Sou mulher e tenho meus direitos do mesmo jeito que você os tem.
- Penso que, por ser homem, somente eu devo ter direitos. Sendo assim, ordeno que você se deite novamente embaixo de mim e eu ficarei com os quatro anéis nos dedos – respondeu o príncipe Obatalá.


A princesa Oduduá, irada, partiu para cima dele numa briga sem-fim. Enquanto lutavam, tentavam cada um pegar os anéis, sem sucesso. 

Lutaram, mas lutaram tanto que a cabaça se rompeu em duas partes. 
Conforme a cabaça se rompeu, a parte de cima dela foi projetada para o espaço juntamente com o príncipe Obatalá; e a parte de baixo permaneceu lá com a princesa Oduduá. 





E os anéis? Bem devem estar espalhados pelo mundo.
Foi quando o príncipe Obatalá gritou, olhando para baixo:
- Oduduá, eu sou o Senhor do Céu. Estou acima de você e vou olhá-la para sempre.
- Obatalá, eu sou a Senhora da Terra – respondeu Oduduá. – Estou embaixo de você e vou olhá-lo para sempre.

E foi assim que Céu e Terra se separaram: a partir de uma briga. E os sete anéis continuam espalhados pelo mundo. Quem será capaz de encontrá-los?
                                                                 Lenda retirada do Livro:
 "OMO-OBA- Histórias de princesas" 
de Kiusam de Oliveira





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