sábado, 16 de novembro de 2013

O ônibus da Rosa - Consciência Negra e Mulheres

Rosa Parks em 1955, com Martin Luther King Jr. ao fundo.


Na semana da Consciência Negra, postaremos algumas histórias encontradas em livros infantojuvenis, que enfocam o poder, a luta e a resistência da mulher negra no enfrentamento ao racismo, a discriminação racial, o respeito ao multiculturalismo e as religões de matriz africana.



Iniciaremos com o livro "O ônibus de Rosa" de Fabrizio Silei e Maurizio Quarello – Tradução de Maurício Santana Dias. 

Rosa ficou famosa, em 1º de dezembro de 1955, por ter-se recusado a ceder o seu lugar no ônibus para um branco, tornando-se a faísca do movimento Boicote aos ônibus, e que posteriormente foi o marco do inicio da luta antissegregacionista americana.




O ônibus de Rosa*

Fabrizio Silei e Maurizio Quarello – Tradução de Maurício Santana Dias

Trecho do livro:

(....)



Foi então que aconteceu uma coisa incrível, um fato extraordinário que mudaria tudo, transformando os dias que viriam em algo bem diferente de todos os que tinham transcorrido até ali:Rosa permaneceu imóvel, sentada em seu lugar.



O motorista encostou o ônibus na calçada e parou. Aos berros, deixou seu lugar  e dirigiu-se até Rosa. “ O que é? Além de negra, é surda? Não está vendo que há um senhor de pé?”

Preocupado, olhei para a mulher que eu não conhecia. “ Senhora, é melhor se levantar, senão vai ter problemas.”
Ela me encarou, seu olhar penetrou o poço negro dos meus olhos e enxerguei meu medo. Não disse mais nada, nem ela.




Aquela mulher frágil e decidida olhou para mim fazendo-me sentir menos que nada.
Agora os olhos do avô brilham, tristes. Pega a mão do menino e, apertando-a com força, continua:
- Nem uma palavra. Só aquele olhar cheio de piedade. O motorista, de uniforme, queixo bem barbeado e duas manchas de suor debaixo dos braços, parou diante dela com toda sua imponência.
“Levante-se! Dê o lugar ao senhor!”, ordenou.
“Não”, disse pacatamente a mulher e, calma e serena, o fixou bem nos olhos.
“Negra, já falei para se levantar e dar lugar ao senhor!”

Rosa não moveu um músculo e, mirando-o bem nos olhos como tinha feito comigo, repetiu, decidida: Não!”.




O homem ficou furioso e desceu do ônibus, gesticulando e gritando: “Ah, é assim? Pois vou mostrar como é e acabar com esse seu ar de pavão!”.
Embora fosse dezembro, começou a fazer calor dentro do ônibus, um calor insuportável. Alguns brancos balançavam a cabeça;
“Onde vamos parar”, questionou uma senhora, olhando para a gente, ressentida.
“Senhora! Ainda dá tempo, levante-se!”, disse ele, quase implorando.

Quieta, ela o olhou, sorriu e balançou  a cabeça negativamente.
O motorista então voltou com dois policiais, que a pegaram à força e a ergueram do assento. 
Ela continuou imóvel e se deixou transportar até o carro como uma rainha em seu baldaquino. Meteram-lhe algemas como se ela fosse uma delinqüente, e eu não nada, nadinha.
Fiquei ali, de pé, arrasado, e pensei que aquela mulher devia ser louca e pagaria caro pelo nariz empinado.

(...)

Depois soube que a mulher tinha sido libertada quase em seguida graças a um advogado e a um jovem pastor, mas condenada a pagar dez dólares de multa.
O pastor era Martin Luther King, que abençoou o boicote.

A pé, de bicicleta, em carretas, em furgões e até em lombo de burro, cada um se arranjou como pôde, mas nada de ônibus.
E assim por um ano inteiro;  a empresa de transpores ficou à beira da falência e muitos motoristas perderam o trabalho.
Rosa também perdeu o emprego e, por causa das contínuas ameaças, teve de se mudar.
Mas sua resistência não foi em vão. Em 1956, um ano após o seu NÃO, a Suprema Corte aboliu a segregação racial nos serviços de transporte público.

Esse lugar onde você está sentado agora é o mesmo que Rosa ocupava naquele dia. Este onde estou sentado era o meu. O assento que eu cedi por medo, por não saber dizer NÃO.


Olhe as fotos dela, veja quanto devemos a essa mulher. Não há uma foto do vovô, porque ele teve medo, medo até por ela. Naquele dia, a história passou do meu lado e era um ônibus, raspou em mim, e eu não soube subir nele. Mais que isso, vi Rosa subindo e tentei dissuadi-la.
A gente pensava que ela fosse doida, e, na verdade, a gente é que era doido, acostumado a baixar a cabeça e a dizer sim.



Por isso é que hoje vim aqui com você, para lembrar que sempre há um ônibus que passa na vida de cada um de nós.
Eu o perdi muitos anos atrás. Fique olhos abertos: não vá perder o seu.
Enfim...- balbucia o velho- queria pedir desculpa a você.
- Desculpa por quê, vovô?
- Por não ter tido a coragem de Rosa, por não estar naquela parede.

Ben se levanta e abraça o avô. Agarra-se a ele, olha a foto de Rosa e sente um aperto na garganta. 

É uma mulher, indefesa como sua mãe poderia ser.
Então não importam os músculos, a força não serve.
Servem, talvez, aqueles olhos grandes e o sorriso sereno.
Serve vencer o medo e saber que estamos certos.

Enquanto pensa em tudo isso, o avô interrompe o abraço, ergueu-se, assoa o nariz e se recompõe.





(...)


* O livro "O ônibus da Rosa" foi encaminhado para todas escolas com Ensino Fundamental completo, no Kit do Ministério da Educação-FNDE-PNBE-2013.


Para entender melhor a história do livro leia abaixo ou na Wikipédia:

Boicote aos ônibus de Montgomery
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O boicote aos ônibus de Montgomery foi um boicote político e social, realizado 
entre 1955 e 1956 na cidade de Montgomery,Alabama, com o objetivo de     se 
opor à política de segregação racial vigente no transporte público da cidade.
Estiveram envolvidos  no  movimento  muitas  pessoas conhecidas,  tais  como 

O movimento causou déficits elevados no  sistema de  transporte  público   de 
Montgomery, em função de uma grande porcentagem de pessoas  que  usavam 
o transporte público deixarem de usá-lo.

O esforço se estendeu de 1 de dezembro de 1955 a 20 de dezembro de 1956 e
levou  a  uma  decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos,  declarando   as 
exigências legais de segregação nos ônibus no estado do Alabama e na cidade 
de Montgomery inconstitucionais.

(...)



Método de segregação nos ônibus de Montgomery



Durante a segregação, nos ônibus de Montgomery, os brancos sentavam-se na 
parte da frente do ônibus, preenchendo-o em direção ao fundo e os negros que
entrassem no ônibus deviam sentar-se no fundo, preenchendo  os lugares   em 
direção à parte frontal do veículo. 
Quando os dois grupos se encontrassem e não houvesse mais lugares exigia-se
que o negro que entrasse depois ficasse em pé. 
Se  uma  outra pessoa branca entrasse no ônibus, um negro  que  se   sentasse 
no lugar mais à frente do veículo teria de se levantar para dar  lugar ao  branco,
permitindo a expansão do espaço destinado aos brancos.




Rosa Parks



O ônibus da National City Lines, de número 2857, no qual Rosa Parks estava viajando antes de ser presa (um GM "old-look", número serial 1132), está em exibição no Museu Henry Ford.


Rosa Parks nasceu em 4 de fevereiro de 1913, em Tuskgee, Alabama. Ela era costureira e trabalhava como secretária, estava grávida quando foi ao ponto de ônibus. Logo após a sua prisão, em 1 de dezembro de 1955, Rosa havia completado um curso de "Relações Raciais" na Highlander Folk School no Tennessee, no qual a desobediência civil não violenta foi discutida como tática.


Em 1º dezembro de 1955, Rosa Parks estava sentada na fileira mais à frente destinada às pessoas negras. Quando um homem branco entrou no veículo, o motorista, disse a todos na fileira na qual ela estava que se movessem para trás para criar uma nova fileira para os brancos. Ao mesmo tempo em que todos os outros negros na fila cumpriram o determinado, Rosa recusou-se e foi presa por desobedecer à ordem do motorista, pois embora a legislação municipal não determinasse explicitamente a segregação, dava poderes discricionários ao motorista para determinar os lugares dentro do veículo.


Declarada culpada em 5 de dezembro , Parks foi multada em US$10,00, mais as custas judiciais de US$4,00, punição da qual ela recorreu. O boicote foi desencadeado pela prisão de Rosa. Como consequência, Rosa Parks é considerada uma pioneira do Movimento dos Direitos Civis nos Estados Unidos.


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