terça-feira, 26 de novembro de 2013

Oiá e o búfalo interior - Consciência Negra e Mulheres



Mais uma bela história contada e recontada pelo povo africano (yorubá) e afro-brasileiro retirada do livro:


Nossa homenagem aos ancestrais e a escritora que nos proporcionaram esta maravilhosa viagem à Grande Mãe Terra.


"OMO- OBA- Histórias de princesas" de Kiusam de Oliveira com ilustrações de Josias Marinho.





Oiá e o búfalo interior

A beleza era muito conhecida e ela era disputada por vários príncipes e pessoas comuns. 
Desde criancinha, Oiá tinha como atributo a beleza, a graça, a rapidez, a determinação e a genialidade. Era de fato uma menina guerreira. 

Mas a menina Oiá tinha conhecimentos que ninguém mais possuía: ela podia se transformar-se em animais. Dentre eles, o búfalo era o que ela mais gostava.

Oiá era uma linda princesa menina, muito conhecida pela sua determinação. Gostava muito de usar seu adê, isto é, sua coroa de palha da costa enfeitada com búzios. 

Também levava sempre em sua mão esquerda seu erukerê, seu cetro de princesa, que também servia para espantar os mosquitos e alguns espíritos. Suas cores preferidas eram: rosa, branco e vermelho.



Ogum era o grande amigo de Oiá e quando eles se encontravam, tudo virava uma grande brincadeira e aproveitavam para lutar, cada um com sua ferramenta preferida: Oiá com a sua adaga e Ogum com a sua espada.

No melhor da brincadeira, Oiá sempre saía dizendo que precisava fazer algo que não podia contar para ninguém, o que despertava a curiosidade de seu amiguinho Ogum.

Um dia, Oiá foi a uma clareira na floresta e retirou sua coroa. Ogum disse:
- Já sei, princesa Oiá, você vai brincar com o vento.
- Isso mesmo, meu amigo, vou rodopiar com o vento – respondeu Oiá.

E Ogum ficou ali, paradinho a admirar a graça e a beleza de Oiá rodopiando com o vento como só ela sabia fazer, e pensava: “Como a princesinha é linda! Olha o vento de Oiá”.

No melhor da brincadeira, Oiá disse:
- Preciso parar, tenho algo importante para fazer que é de minha natureza, não posso deixar de cumprir com esta tarefa.


Neste dia, Ogum resolveu segui-la. No meio da floresta, pé ante pé, tentando não fazer barulho, Ogum viu sua amiguinha parar, olhar para os lados e ir atrás de uma árvore, quando...
- Mas o que é isto? – gritou Ogum.

Era um búfalo, um búfalo filhote, um búfalo que sorria e corria como o vento e que, conforme corria, fazia levantar um poeirão vermelho do chão. Ogum não esperou nem um minuto: saiu correndo atrás daquele búfalo, sem entender o que estava acontecendo. 

Ele pensava: “Ué, mas eu vi Oiá ir atrás daquela árvore e de lá saiu um búfalo. Será que Oiá... não, não, não. Isto não é possível”.

Ogum, com toda a força que tinha em seu corpinho de menino, corria atrás do búfalo para ver até onde ele iria. Até que o búfalo parou. Ogum também parou e rapidamente se escondeu. 

Viu o búfalo olhar para os lados quando, de repente, o búfalo ficou em pé apoiado nas duas patas traseiras e, com uma das patas dianteiras, pegou um dos chifres e o ergueu na direção do céu.


A pele de búfalo foi se soltando do corpo e por baixo dela estava...
- Oiá! – gritou Ogum, saindo de seu esconderijo.
- Ogum, seu danadinho. Você me seguiu – falou Oiá.
- Quer dizer que este é o seu segredo de força, de determinação, de graça e beleza? – perguntou Ogum.
Ao que Oiá respondeu:

- Toda menina, toda mocinha e toda mulher tem dentro de si a força e o poder de um animal selvagem sagrado que, em certos momentos, devem ser colocados para fora, devem explodir para o universo com a mensagem de que fazemos parte de tudo isto. 

Quando colocamos essa força para fora, muitos meninos e meninas, mocinhos e mocinhas, homens e mulheres não compreendem e, por isso, devemos mantê-la em segredo.

-Então, este será o nosso segredo, minha querida princesinha Oiá. Eu a saúdo. Eparrê, Oiá!


 Para ler mais sobre Oyá ou Iansã:






Ogum:







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