Oiá e o búfalo interior
A beleza era muito conhecida e ela era disputada por vários
príncipes e pessoas comuns.
Desde criancinha, Oiá tinha como atributo a beleza,
a graça, a rapidez, a determinação e a genialidade. Era de fato uma menina
guerreira.
Mas a menina Oiá tinha conhecimentos que ninguém mais possuía: ela
podia se transformar-se em animais. Dentre eles, o búfalo era o que ela mais
gostava.
Oiá era uma linda princesa menina, muito conhecida pela sua
determinação. Gostava muito de usar seu adê, isto é, sua coroa de palha da
costa enfeitada com búzios.
Também levava sempre em sua mão esquerda seu
erukerê, seu cetro de princesa, que também servia para espantar os mosquitos e
alguns espíritos. Suas cores preferidas eram: rosa, branco e vermelho.
Ogum era o grande amigo de Oiá e quando eles se encontravam,
tudo virava uma grande brincadeira e aproveitavam para lutar, cada um com sua ferramenta
preferida: Oiá com a sua adaga e Ogum com a sua espada.
No melhor da brincadeira, Oiá sempre saía dizendo que
precisava fazer algo que não podia contar para ninguém, o que despertava a
curiosidade de seu amiguinho Ogum.
Um dia, Oiá foi a uma clareira na floresta e retirou sua
coroa. Ogum disse:
- Já sei, princesa Oiá, você vai brincar com o vento.
- Isso mesmo, meu amigo, vou rodopiar com o vento –
respondeu Oiá.
E Ogum ficou ali, paradinho a admirar a graça e a beleza de
Oiá rodopiando com o vento como só ela sabia fazer, e pensava: “Como a
princesinha é linda! Olha o vento de Oiá”.
No melhor da brincadeira, Oiá disse:
- Preciso parar, tenho algo importante para fazer que é de
minha natureza, não posso deixar de cumprir com esta tarefa.
Neste dia, Ogum resolveu segui-la. No meio da floresta, pé
ante pé, tentando não fazer barulho, Ogum viu sua amiguinha parar, olhar para
os lados e ir atrás de uma árvore, quando...
- Mas o que é isto? –
gritou Ogum.
Era um búfalo, um búfalo filhote,
um búfalo que sorria e corria como o vento e que, conforme corria, fazia
levantar um poeirão vermelho do chão. Ogum não esperou nem um minuto: saiu
correndo atrás daquele búfalo, sem entender o que estava acontecendo.
Ele
pensava: “Ué, mas eu vi Oiá ir atrás daquela árvore e de lá saiu um búfalo.
Será que Oiá... não, não, não. Isto não é possível”.
Ogum, com toda a força que tinha
em seu corpinho de menino, corria atrás do búfalo para ver até onde ele iria.
Até que o búfalo parou. Ogum também parou e rapidamente se escondeu.
Viu o
búfalo olhar para os lados quando, de repente, o búfalo ficou em pé apoiado nas
duas patas traseiras e, com uma das patas dianteiras, pegou um dos chifres e o
ergueu na direção do céu.
A pele de búfalo foi se soltando do corpo e por baixo
dela estava...
- Oiá! – gritou Ogum, saindo de
seu esconderijo.
- Ogum, seu danadinho. Você me
seguiu – falou Oiá.
- Quer dizer que este é o seu
segredo de força, de determinação, de graça e beleza? – perguntou Ogum.
Ao que Oiá respondeu:
- Toda menina, toda mocinha e toda
mulher tem dentro de si a força e o poder de um animal selvagem sagrado que, em
certos momentos, devem ser colocados para fora, devem explodir para o universo
com a mensagem de que fazemos parte de tudo isto.
Quando colocamos essa força
para fora, muitos meninos e meninas, mocinhos e mocinhas, homens e mulheres não
compreendem e, por isso, devemos mantê-la em segredo.
-Então, este será o nosso segredo,
minha querida princesinha Oiá. Eu a saúdo. Eparrê, Oiá!
Ogum:
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