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Na apresentação do livro "Lendas da África Moderna" comenta-se que:
" (...)
A lenda nasce do que se ouve por aí. Como não há continente nem época que não tenha sido berçário de uma delas, nunca cessam de aparecer. Então, todo dia é possível um episódio heróico, um ser fora do comum ir virando lenda sem a gente se dar conta. Portanto, nem só de passado vivem esses relatos de encantamento.
E também é assim na África moderna que viva, continua produzindo suas histórias. Alguns feitos extraordinários que de lá chegam como notícias logo viram murmurinhos. Então nasce mais uma lenda a respeito da África (...)"
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Pensando assim as escritoras criaram uma inspiradora lenda para Wangari Maathai.
Wangari Maathai, fundadora do movimento Cinturão Verde, foi a primeira mulher africana a receber o Prêmio Nobel da Paz.
A ambientalista queniana ganhou o Nobel em 2004, por sua contribuição ao desenvolvimento sustentável, à democracia e à paz.
Wangari com poucas mudas de árvores conseguiu mobilizar a população do Quênia, e no final deste movimento plantou-se mais de 30 milhões de árvores neste país.
Para Maathai, todos podemos contribuir para a preservação do planeta: somos parte do problema e somos também parte da solução.
Abaixo história retirada do livro "Lendas - Da África Moderna" de Heloísa Pires Lima e Rosa Maria Tavares Andrade, com ilustrações de Denise Nascimento.
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A visionária menina Kikuiu
As fendas abriam o chão feito raio em meio à tempestade. E
chegavam cada vez mais perto das moradas do Quênia, um país que fica lá na
África. Não eram poucas as casa que já haviam sido devoradas pelas goelas
enormes da terra que tragavam a vida do pessoal.
Eu era o único
flamingo que restava entre as aves do lugar. E apenas eu saberia o tamanho do
lote já transformado em deserto assassino de vidas, não fosse a visionária
menina Kikuiu.
Parecem ter uma claridade de iluminar pensamentos sem
precisar dizer uma só palavra.
Os habitantes do lugar, ao contrário, pareciam não enxergar
nada do que estava a ocorrer ao redor. Cegos e esquecidos! Nem se deram conta
de que haviam perdido um tempo. Aqueles em que o verde refrescava a superfície
do país. Eles não lembravam que toda planta, não importa qual fosse seu
tamanho, deixava suas folhas caírem. Pouco a pouco, de folhinha em folhinha,
elas formavam um tapete verde.
Quando chovia, aquele forradinho de vegetação protegia o território – toda a área-, igual guarda-chuva; as raízes abraçavam o solo, impedindo que deslizasse. Então o chão ficava seguro no mesmo lugar. A água, ao atravessar a terra firme, ia sendo filtrada pelas camadas, guardada limpinha e pronta pra encher um poço, caso alguém quisesse retirá-la lá do fundo.
Quando chovia, aquele forradinho de vegetação protegia o território – toda a área-, igual guarda-chuva; as raízes abraçavam o solo, impedindo que deslizasse. Então o chão ficava seguro no mesmo lugar. A água, ao atravessar a terra firme, ia sendo filtrada pelas camadas, guardada limpinha e pronta pra encher um poço, caso alguém quisesse retirá-la lá do fundo.
Com a terra seca, não havia refeição fresca. Sem comida, as crianças choravam. Seus pais, caso conseguissem alguma, a escondiam. Cada vez mais a agressividade crescia à procura de alimento.
Aquele mundo estava mesmo muito doente- terra, planta, bicho, gente. Só faltava o céu adoecer com seu único flamingo.
Mas, em meio à secura dos corações, a pequena menina Kikuiu
de olhos visionários começou a ser vista, às vezes à beira de uma cratera, em
torno de uma árvore ou atravessando os campos.
Sempre pedalando uma bicicleta. Então, em dada hora e em tal lugar, fazia as perguntas:
Sempre pedalando uma bicicleta. Então, em dada hora e em tal lugar, fazia as perguntas:
- Onde estão os arbustos que enfeitavam os caminhos?
- Colocaram fogo – mais que depressa lhe responderam.
- Cada animalzinho que
vivia daquele verde ficou torrado no meio do fogaréu que se alastrou.
- Ficaram tão poluídas, tão cheias de plástico e de tudo
quanto é sujeira, que só os mosquitos se mudaram para cá. – Esse era o tipo de
explicação que lhe davam.
- E a sombra daquela árvore nativa que reunia os vizinhos
para ouvirem uma boa história, tocarem uma bela música?
Como os humanos não percebiam que sem as mata não haveria
vento, sem vento não haveria nuvens, sem nuvens não haveria chuva, sem chuva não
haveria rios, terra fresca, gente colhendo alimento saboroso e se sentindo
satisfeita?
Como não entendiam que era só desmatar pra ver a erva da
confusão se espalhar e, com ela, muitos tipos de sofrimentos?
E que deserto surgiria, não fosse a visionária menina
Kikuiu?
Então, só se ouvia contar que ela despertava as meninas do
país na sua aparição. Um dia, muitas delas foram vistas, como se seguissem alguém,
subindo o monte mais alto do Quênia.
Talvez lá do alto descobrissem o tamanho do deserto que tomava aquela paisagem e o tamanho do belo mundo que deixava, a cada dia, de existir.
Quando voltaram, todas traziam uma pequena muda de árvore nativa. Cada menina construiu um minúsculo viveiro. E essa ação se repetiu por todo o sul, leste, oeste e norte do país.
Talvez lá do alto descobrissem o tamanho do deserto que tomava aquela paisagem e o tamanho do belo mundo que deixava, a cada dia, de existir.
Quando voltaram, todas traziam uma pequena muda de árvore nativa. Cada menina construiu um minúsculo viveiro. E essa ação se repetiu por todo o sul, leste, oeste e norte do país.
E eu comecei a notar a transformação. Enquanto uma fenda
ameaçadora avançava, um corredor de mudinhas já plantadas formava novos verdes.
E quanto mais brotos, mais meninas.
Todas saíam plantando mais e mais árvores; vinte, vinte mil, vinte milhões. Pelo esforço, o suor caía no solo como chuva fecundadora.
Todas saíam plantando mais e mais árvores; vinte, vinte mil, vinte milhões. Pelo esforço, o suor caía no solo como chuva fecundadora.
Além das plantas nativas, muitas alegrias floriram junto. E
não há quem não veja a mudança a caminho.
Até mesmo os antepassados invisíveis voltaram a avistar o futuro. Como raízes, abraçaram sua terra, conseguindo protegê-la novamente. Agora, o ar já refresca, seja gente ou semente. Então só resta a este flamingo espalhar a notícia de ser o deserto o único a fugir dali. E correndo.
Até mesmo os antepassados invisíveis voltaram a avistar o futuro. Como raízes, abraçaram sua terra, conseguindo protegê-la novamente. Agora, o ar já refresca, seja gente ou semente. Então só resta a este flamingo espalhar a notícia de ser o deserto o único a fugir dali. E correndo.
Quando à visionária menina Kikuiu?
Para saber mais sobre Wangari Maathai:
Sobre a morte de Wangari Maathai:
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