(Reeditado)
Esta semana comecei a ler alguns novos livros infantojuvenis, entre eles a “Moça lua e
outra lendas” (acabei de ler).
O autor Walmir Ayala, reconta 19 lendas indígenas brasileiras,
sobretudo do Sul do Brasil.
Como adoro ler e contar lendas e mitos reproduzo a primeira lenda do
livro.
Moça Lua
Só havia a noite e o dia.
E a noite era tão escura que deixava
os homens assustados e aconchegados em suas casas, ao pé do fogo.
Na tribo só uma índia não tinha medo da noite. Ela saía na escuridão e voltava com os cabelos cobertos de vaga-lume, e andava na beira do rio e todos ficavam tranquilos porque ela contava que não havia perigo. A índia era muito branca e não tinha medo da noite escura.
Na tribo só uma índia não tinha medo da noite. Ela saía na escuridão e voltava com os cabelos cobertos de vaga-lume, e andava na beira do rio e todos ficavam tranquilos porque ela contava que não havia perigo. A índia era muito branca e não tinha medo da noite escura.
Havia
outra índia de olhar escuro como a noite que não via aquilo com bom coração. A
inveja crescia dentro dela como a urtiga que arde.
Um dia tentou caminhar noite
adentro, mas não foi vista e cortou os pés nos gravetos e seixos da margem do
rio.
Quando tentou cantar, houve uma revoada de morcegos escuros, e seu canto
era como riso de hiena.
Então a índia invejosa foi falar com a cascavel:
- Cascavel, preciso do teu serviço.
- Pra o bem, ou pra o mal?
- Pra o mal.
A cascavel bailou feliz. Sua vida e seu veneno estavam a
serviço dos maus trabalhos:
- Que queres que eu faça?
- Que mordas o calcanhar da índia branca.
- A que não tem medo da noite?
- Esta mesma.
- Pra matar?
- Que fique escura, verde e MUDA.
A cascavel mais uma vez saltou de alegria e prometeu:
- Hoje mesmo.
De noite a índia branca foi fazer seu passeio... A cascavel
se arrastou e ficou debaixo de uma pedra esperando.
Quando a índia branca
passou cantando, a cascavel deu o bote. Mas a índia branca tinha os pés
calçados com duas conchas de madrepérolas e a cobra quebrou os dentes e perdeu
o veneno:
- Índia infeliz, o fizeste comigo!
- O que pretendias tu fazer comigo?
- Eu ia te fazer escura, verde, velha e MUDA.
- Fui salva pelo sapato de conchas que o boto me deu.
- E eu fiquei sem
dentes e sem veneno.
- Porque tu querias me transformar? - indagou a índia branca.
- Porque tu querias me transformar? - indagou a índia branca.
- Porque tu és muito linda, e a índia escura não suporta que
vivas aqui...
- Ela mandou?
- Ela sofre.
Então a índia branca começou a chorar. E as lágrimas eram
gotas de luz, tão leves que foram flutuando e permaneceram no céu. Todos os
índios se espantaram com aquilo... a noite já era menos escura.
Assim a índia
branca chorou muito e disse:
- Não posso viver entre os que me odeiam. E passou por cima
das águas do rio, até outro lado. A cascavel meteu-se num buraco e nunca mais
saiu.
A índia branca chegou do outro lado e procurou a coruja:
- Mãe coruja, ajuda-me a chegar ao céu.
- Filha linda, pede e eu farei.
Então a índia branca foi colher cipó e flor-de-manacá. Trançou
tudo e fez uma escada linda como os amores.
Árvore de Manacá |
Pediu à coruja:
- Voa bem alto e suspende a escada para que eu possa subir.
A coruja obedeceu e chegou até a porta do céu com a
maravilhosa escada. A índia branca foi subindo. Chegou no céu, acomodou-se numa
nuvem e ficou. Estava tão feliz que a coruja desceu com a escada sem fazer ruído, pois a índia
branca, fatigada, dormia.
E nunca mais voltou. Os índios viram então aquela
forma reclinada, branca e brilhante, vagando entre nuvens, rodeada de lágrimas
de luz.
Disseram:
- A lua, a lua.
A índia escura e invejosa olhou e ficou cega de ódio. Dizem
que foi morar na cova da cascavel, nunca mais foi vista.
Moça Lua, no entanto,
continua até hoje a povoar a noite. E os homens sonham, um dia, poder construir
uma escada igual à dela, para ir ao seu encontro.
História retirada do livro: “Moça Lua e outras lendas” de
Walmir Ayala e ilustrações de Simone Matias
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