quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Wangari e as árvores da Paz





Para conhecer melhor a força, a luta e a mulher Wangari, compartilho abaixo a história de "Wangari e as árvores da Paz" de Jeanette Winter.





A terra estava despida. 

Para mim, a missão

era tentar voltar a cobri-la de verde.

Wangari Maathai










Wangari vive sob as árvores, a sombra do Monte Quênia, na África.


Ouve o cantar dos pássaros na floresta, sempre que vai com a mãe buscar lenha para cozinhar, e ajuda-a apanhar as batatas-doces, a cana-de-açúcar e o milho da terra fértil.


Wangari é boa aluna e quando cresce, alta como as árvores do bosque, ganha uma bolsa para estudar nos Estados Unidos.


Seis anos depois, acabado o curso, regressa à casa, no Quênia, e vê que muita coisa mudara.


“O que aconteceu?”, interroga-se. “Onde estão as árvores?”


Wangari vê as mulheres curvadas sob o peso da lenha que tiveram de ir buscar a quilômetros e quilômetros de casa. 
Vê a terra despida, em que nada cresce.

“Onde estão os pássaros?”


Milhares de árvores foram cortadas para construir edifícios, mas ninguém plantara novas árvores em substituição.


“O Quênia inteiro irá converter-se num deserto?”, pergunta-se.

Wangari pensa na terra seca.


“Posso começar por semear algumas árvores aqui no meu quintal, uma a uma”.

Começa com nove.


Ao ver os pequenos caules ganhar raízes, Wangari enche-se de ânimo para continuar a plantar e inicia um viveiro. 
Num descampado, Wangari planta pequenas árvores, fiada atrás de fiada.


Em seguida, convence as mulheres das aldeias de que plantar árvores e algo de bom. Dá uma pequena árvore a cada uma.


— Verão que nossa vida será melhor quando voltarmos de novo a ter árvores. 
Estamos a lançar a terra sementes de esperança.


As mulheres espalham-se pelas suas aldeias e plantam longas fiadas de pequeninas árvores que se estendem como um cinto verde por todo o campo.

Os funcionários do governo riem-se.


— As mulheres não são capazes de o fazer — dizem eles. — Só os serviços florestais é que sabem plantar árvores.


As mulheres ignoram a troça e continuam a plantar.


Wangari paga-lhes uma pequena quantia por cada planta que tenha pegado ao fim de três meses depois da plantação. E a primeira vez na vida que ganham dinheiro.


               



A palavra corre como o murmúrio do vento entre a ramagem: o verde voltou a aldeia de Wangari.

Depressa as mulheres de outras cidades, aldeias e povoados do Quênia começam também a plantar longas fiadas de pequenas árvores.

Porém, o abate não para.


Wangari opõe-se, firme como um carvalho, a fim de proteger as velhas árvores que ainda restam.

— Precisamos mais de um parque verde do que de um prédio de escritórios.

Mas os funcionários do governo não estão de acordo.


Wangari impede-lhes a passagem. E presa é metida na cadeia, sob a acusação de ser uma agitadora.

Wangari mantém-se firme.


“O que é correto é correto, mesmo que se fique só”.

Mas Wangari não esta só.


O seu apelo a favor das árvores espalha-se por toda a África, como as ondas na água do lago Vitória.


Muitas mulheres inteiram-se da notícia e plantam ainda mais árvores em fiadas cada vez mais longas.

Os caules ganham raízes e crescem bem alto, a ponto de haver mais de trinta milhões de árvores onde antes não havia nenhuma.


A floresta verde do Quênia renasce.


As mulheres já caminham de cabeça erguida e costas direitas, agora que podem apanhar lenha perto de casa.


A terra já não está seca.


Batata doce, cana-de-açúcar e milho crescem de novo na terra escura e fértil.

No mundo inteiro ouve-se falar das árvores de Wangari e do seu exército de mulheres plantadoras.

E quem subir ao cume do Monte Quênia verá milhões de árvores a crescer lá embaixo, o verde que Wangari fez renascer na África.







NOTA DO AUTORA


Wangari Maathai, nasceu em 1940, no Ihithe, uma pequena aldeia na verde e fértil terra do Quênia.

Wangari era uma estudante brilhante e ganhou a “bolsa de estudos Kennedy,” o que lhe permitiu tirar uma licenciatura e um mestrado em Ciências Biológicas nos Estados Unidos. Regressou ao Quênia para concluir os estudos na Universidade de Nairobi. Foi a primeira mulher na África Oriental a tirar um doutoramento. 


Wangari iniciou o Movimento Verde do Quênia em 1977, no Dia Mundial do Meio Ambiente, plantando nove pequenas árvores no quintal atrás da sua casa. 

Foi a primeira ação para contrabalançar a massiva desmatamento do seu país. 
Com a falta de árvores, a vida diária do campo mudara, especialmente para as mulheres: a lenha para casa era escassa, a terra estava em erosão e empobrecida e não havia água potável. O deserto avançava, arrasando campos onde outrora houvera árvores e colheitas abundantes.


Wangari recrutou mulheres da sua aldeia para a ajudarem a plantar mais árvores. Em 2004, já tinham plantado trinta milhões de árvores, havia seis mil viveiros no Quênia, oitenta mil famílias viram os seus rendimentos aumentados e o movimento já tinha se estendido a trinta países africanos.


Wangari Maathai ganhou o Prêmio Nobel da Paz 2004, pelo seu contribuição para a paz no mundo através do Movimento Verde. 
Na tradição africana, a árvore é um símbolo de paz. Ao saber que tinha ganho o prêmio, Wangari plantou no sopé do Monte Quênia uma Nandi flame, árvore africana. 
No seu discurso de aceitação do Prêmio Nobel, disse:


"Temos de curar as feridas da Terra…

Só assim curaremos as nossas próprias feridas.

Temos de abraçar a criação em toda a 

sua diversidade, beleza e maravilha."

Wangari Maathai












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