domingo, 28 de julho de 2013

Racismo e música

Esta semana mais uma vez percebemos como o racismo continua presente no mundo todo, citamos como exemplo, o que ocorreu com a Ministra da Integração da Itália Cécile Kyenge. 

Cécile é a primeira ministra negra na Itália, e nesta última sexta-feira, um espectador atirou bananas enquanto ela fazia um discurso em um comício político em Cervia.

"Cécile Kyenge, que vive desde 1983 na Itália, onde também se formou como oftalmologista, afirmara, em junho, que não tem medo.
'Há insultos e ameaças contra mim porque agora estou numa posição visível, mas, na verdade, são ameaças contra qualquer um que resista ao racismo, que resista à violência.' "*

A música por ser uma linguagem universal contribui imensamente para a aproximação dos diferentes povos e etnias. O reconhecimento, o respeito, a valorização e a contribuição dos povos de etnia negra e indígena ainda não foram devidamente reconhecidos pela humanidade.

Uma das tantas formas que utilizamos para trabalhar em educação contra o racismo e a discriminação é através da música.


Fonte e citação retiradas do site:


Como exemplo, abaixo duas músicas que já utilizei com alunos:

Canto Das Três Raças



                                         Paulo César Pinheiro e  Mauro Duarte



Ninguém ouviu

Um soluçar de dor
No canto do Brasil

Um lamento triste
Sempre ecoou
Desde que o índio guerreiro
Foi pro cativeiro
E de lá cantou

Negro entoou
Um canto de revolta pelos ares
No Quilombo dos Palmares
Onde se refugiou

Fora a luta dos Inconfidentes
Pela quebra das correntes
Nada adiantou

E de guerra em paz
De paz em guerra
Todo o povo dessa terra
Quando pode cantar
Canta de dor

ô, ô, ô, ô, ô, ô
......

E ecoa noite e dia
É ensurdecedor
Ai, mas que agonia
O canto do trabalhador

Esse canto que devia
Ser um canto de alegria
Soa apenas 
Como um soluçar de dor



Negra Livre

          Nando Reis 


Está com todo som, na boca nas palavras.
Está em outro tom, nas sílabas caladas.
A minha linda voz.

Está como eu estou nas roupas, nas sandálias.
Está aonde eu vou na rua, nas calçadas
A minha linda voz

Sou negra livre
Negra livre
Cheguei aqui a pé.

Para destoar
Para dissolver
Para despertar
Pra dizer

Está na cara, a cor, na sombra das imagens.
Em tudo o que supor, nos contos, nas miragens
A minha linda voz

Está em toda dor, na gota de uma lágrima.
Dá em qualquer sabor na beira da estrada
A minha linda voz.

Sou negra livre
Negra livre
Cheguei aqui a pé.

Para desnudar
Para derreter
Para descolar
Pra viver

Para deslizar
Para devolver
Para desbocar...
Pra doer

Para desarmar
Para adormecer
Para desfilar...
Pra Vencer

Sou negra livre
Negra livre
Cheguei aqui a pé.

Sou negra livre
Negra livre
Cheguei aqui a pé.

Assista o vídeo no You Tube link na tela do vídeo:



quinta-feira, 25 de julho de 2013

Para que a escrita seja legível


Texto abaixo, reescrito a partir de outro texto postado neste blog anos atrás.


(Pintura- Kandinsky)

Para que a escrita seja legível

Cecília Meireles


Para que a escrita seja legível,
é preciso dispor os instrumentos,
exercitar a mão,
conhecer todos os caracteres.
Mas para começar a dizer
alguma coisa que valha a pena,
é preciso conhecer todos os sentidos
de todos os caracteres,
e ter experimentado em si próprio
todos esses sentidos,
e ter observado no mundo
e no transmundo
todos os resultados dessas experiências.

Maio, 1963.


Minha escrita não tem sido muito legível, e até em alguns momentos nem eu mesma ando conseguindo decifrar, ler ou entender todos os caracteres, palavras e frases que tenho utilizado para expressar-me.

Como ignoro muitas coisas da vida, mas por sorte sou curiosa e amo estar aprendendo, não sobra muito tempo para ficar exercitando e praticando o ato da caligrafia e do traço perfeito.      

Meu ser definiu como prioridade, viver da melhor forma possível, simples e alegremente, cada dia. 
Neste aprendizado constante, algumas vezes surge a necessidade de registrar algumas histórias, relatos e impressões do que tenho vivenciado e que passam pelos meus 7 sentidos*.

Ver o bater das asas de uma borboleta ou gastar o meu tempo ouvindo o canto dos passarinhos da janela do meu quarto, é muito mais importante do que estar atrás da perfeição na vida. 
E a vida  passa muito rápido, e eu não posso me dar ao luxo de ter uma "vida escrita em um bloco de rascunho", porque provavelmente não terei tempo de passá-la a limpo.

(7 sentidos*: visão, paladar, olfato, tato, audição, ciência/conhecimento e intuição/espiritual).
____________

Semana que vem retornaremos a nossa rotina de trabalho (fim de recesso escolar de inverno),e apesar de parecer que a minha vida ficou suspensa por um período, posso afirmar que descobri aspectos interessante no mundo que eu desconhecia.

Apesar dos últimos dias, ter a sensação constante de que tudo esta prestes a desaparecer no ar e de uma dúvida constante me acompanhar: "será que tudo que senti e vivi, nestes dias não passaram de uma bela e doce ilusão, muito bem inventada, por uma contadora de histórias. 


Algumas vezes, não temos certeza da resposta. 

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O bom é que tenho notado que meu filho está muito melhor de saúde e juro, não é a fala de mais uma mãe coruja, ele realmente esta se tornando um cara muito legal. 

Guardei na memória destes últimos dias alguns fatos:

Meu filho falando com outra pessoa: " Ela (falando de mim) só está tentando me ajudar a ser feliz".

Ontem, depois que um taxista fez uma manobra dando ré no carro,  bem no meio de uma rua de mão dupla, quase na esquina e, eu neste exato momento entrava na rua. 
Quase parei em cima do táxi, o motorista só me olhou e fez uma cara do tipo "eu sou mau", falou algo que eu não escutei (mas imagino). Meu filho, apenas comentou: "Ele faz errado e te olha daquele jeito. E como as palavras podem ser tão machistas, e ainda usam nomes de animais, como pode ser assim? 

Estava ouvindo música na segunda-feira, ele me olhou e perguntou se eu queria o cd do Pink Floyd e do coldplay da coleção dele, depois ele me trouxe de presente. Fiquei bem contente, só depois descobri a verdadeira intenção, ele queria negociar a compra de um livro com o meu cartão. Como dizem, certas coisas fazem parte da relação entre pais e filhos.

Nossa dificuldade na relação continua sendo na hora do almoço. Esta semana eu estava cozinhando, lendo, twittando e vendo tv. 
Daqui a pouco o Marcos grita: "Mãe, faz o favor, vê se não deixa a comida queimar de novo". É óbvio, que eu fiquei chateada, eu não tinha queimado nada nos últimos dias. E não queimei também neste dia, só coloquei um pouco a mais de sal na carne assada, mas deu para comer. Como disse, nem tudo pode ser perfeito.

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Voz que se cala

Florbela Espanca

Amo as pedras, os astros e o luar
Que beija as ervas do atalho escuro,
Amo as águas de anil e o doce olhar
Dos animais, divinamente puro.

(...)

Amo todos os sonhos que se calam
De corações que sentem e não falam,
Tudo o que é infinito e pequenino!



terça-feira, 23 de julho de 2013

Nietzsche combina muito com inverno



Trecho do livro: "Assim falava Zaratustra" de Friedrich Wilhelm Nietzsche, tradução de Eduardo Nunes Fonseca. 
Um livro que tenho há mais de 25 anos, devo ter comprado já usado, as folhas estão bastante amareladas, mas mesmo assim, leio de vez em quando algumas de seus capítulos. Abaixo um dos meus preferidos:





Ler e escrever

“De todo o escrito só me apraz aquilo que uma pessoa escreveu com o seu sangue. Escreva com sangue e aprenderá que o sangue é espírito.

Não é fácil compreender sangue alheio: detesto todos os ociosos que leem.
(...)
O que escala montes sorri de todas as tragédias da cena e da vida.
Valentes, despreocupados, zombadores, violentos, eis como nos quer a sabedoria.
É mulher e só lutadores podem amar.




Tartaruga da Amazônia
 
                                                    
Vós me dizeis; ‘A vida é uma carga pesada’. Mas, para que serve vosso orgulho pela manhã e essa vossa submissão à tarde?
A vida é um fardo pesado; mas não vos mostreis tão abatidos. Todos somos jumentos carregados.
Que semelhança temos com o vaso de rosa que treme apenas porque o oprime uma gota de orvalho?

É verdade: amamos a vida não porque estejamos habituados a ela, mas ao amor.
Há sempre o seu quê de loucura de amor; mas também há sempre o seu quê de razão na estultícia.

E eu, que me sinto bem com a vida, creio que para conhecer felicidade não há como as borboletas e as bolhas de sabão, e o que se lhes assemelhe entre os homens.



Borboletas monarcas
 

Ver revolutear essas almas aladas e loucas, encantadoras e buliçosas, é o que arranca lágrimas e canções de Zaratustra.

Eu só poderia crer num Deus que soubesse dançar.

E quando vi  o meu demônio, pareceu-me sério, grave,  profundo e solene: era o espírito do pesadelo. Por ele caem todas as coisas.

Não é com rancor, mas com sorriso que se mata. Adiante! Liquidemos o espírito do pesadelo!

Eu aprendi a andar; consequentemente corro. Eu aprendi a voar; logicamente não quero que me empurrem para mudar de local.

Agora sou leve, agora voo; agora vejo por baixo de mim mesmo, agora salta em mim um Deus.”

 Assim falava Zaratustra.


Você já brincou de fazer bolhas de sabão, não? Então, você precisa ter esta experiência na vida, é muito divertido.

Para fazer bolhinhas de sabão:





Receita 1
Utilize shampoo ou sabão liquido, nesse liquido aplique também a glicerina, que também será responsável por manter a boa qualidade da bolha de sabão.
Misture com água e deixe armazenado por algum período, por isso utilize sempre uma grande quantidade, para que você tenha muito liquido para se divertir.

Receita 2

Utilize shampoo de bebê, em uma quantidade proporcional, utilize o mel para a substituição da glicerina.

Misture com água com uma maior quantidade, em média o dobro da quantidade de mel e shampoo. Essa mistura não deve ser armazenada por um longo tempo, por isso faça apenas a quantidade que você irá utilizar.


Caso não tenha as tradicionais argolas para fazer as bolhas pode-se utilizar uns canudinhos, são baratos e fáceis de encontra.
 Para não beber água com sabão, faça um pequeno corte em formato de "V" na parte de cima do canudinho. 

Ou ainda, você pode fazer a argola, com arame. Corte 30 cm do arame, dobre uma das suas extremidades com alicate. 
Torça a outra extremidade formando um círculo e trance o arame para fixá-lo. No arco enrole barbante. 

Coloque o líquido em um copo plástico mais resistente ou em um potinho de alumínio.

domingo, 21 de julho de 2013

Na sexta-feira, quando meu carro simplesmente não ligou, em uma travessa escura, quase deserta, à noite, estive muito bem acompanhada pela lua e o frio. 

O poema abaixo já estava nos meus rascunhos para ser postado, lembrei dele na manhã de domingo: 

" ... em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive." 

Ode

                Ricardo Reis

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda

Brilha, porque alta vive.



sexta-feira, 19 de julho de 2013

A semana

Esta semana precisei diversas vezes apelar para o espírito da alegria. E para ajudar encontrei um poema de William Wordsworth:

Ela era um espírito da alegria

(...)

Criatura nem brilhante ou boa demais
Para os afazeres cotidianos e normais,
Ou a sofrer passageiro e simples desejos,
Louvor, culpa, amor, lágrimas, sorrisos e beijos.

(...)
Com os olhos tranquilos posso contemplar
Desta máquina o verdadeiro pulsar;
Um ser que, pensativo, respira forte:
Um viajante, em meio à vida e à morte;
A razão firme, a vontade temperada,
Uma perfeita mulher soberbamente forjada;
Paciência, visão, habilidade e poder,
Para alertar, confortar e reger;
E ainda um Espírito com fulgor magistral,
Com algo da luz angelical.


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Na quarta-feira, deixei furo e logo com meu o meu filho adolescente. Fiz confusão em relação a classificação dos animais e logo de uma lesma. 
Logo, depois falando de pinguins de magalhães, fiz a besteira de comentar se eles chegavam a viver na Antártica. Sabe aqueles dias, que mesmo sabendo algo você diz outra, acontece. 
Ele me olhou não disse nada, saiu. Quando voltou me entregou uma carta da coleção Pokémom "Cry for help". Era uma carta com uma tartaruga. Eu olhei e disse: " Eu adoro tartarugas. Elas na cultura indígena simbolizam o tempo, a paciência e a sabedoria."
Ele me diz: "Olha a carta direito, é uma tartaruga, com o poder de magna, ela solta fogo, às vezes."
Percebo que o bom humor dele está de volta, isto é um bom sinal, fico muito feliz.
Depois ele vem e me dá para levar para os alunos da escola, alguns decks de cartas, me conta que está arrumando a coleção Pokémom, e como não joga mais, resolveu que não precisa ficar mais com todas aquelas cartas guardadas. Percebo que uma outra fase da vida dele está se encerrando. Filho crescendo, isto é bom...




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Depois de uma hora esperando o socorro do carro, depois das 6 horas da tarde, com frio, em uma travessa pouco clara, em um lugar não muito seguro, cheguei em casa até que muito tranquila.

A moça ao telefone falou-me: "No máximo em 30 minutos ele chega aí". 
Passaram 30 minutos, liguei novamente: "Em 15 minutos, ele já está próximo" e nada. 

Então, resolvi bancar a Poliana: " Bom, poderia ter acontecido em um dia mais frio, mais tarde da noite, em um dos dias que aconteceram as manifestações na cidade (e eu assistiria de camarote, pois estaria em um dos pontos privilegiados da cidade baixa para presenciar os conflitos), o carro poderia não ter seguro, etc...

Depois de mais de uma hora, chega o mecânico, abre o capô e informa-me (eu já havia comunicado à moça ao telefone e a ele próprio que acreditava que o problema era a bateria): "Realmente é a bateria", e me chama para ver, eu olho, e digo: "Mas esta não é a bateria do carro", inclusive esta estava praticamente solta e sem parafusos para prendê-la. 
Conclusão, tinham roubado a bateria do carro, provavelmente em alguma das garagens onde o deixei estacionado esta semana. 
Por fim, ainda precisei comprar uma bateria nova. 
Em apenas um ano, o macaco do carro criou pernas e saiu andando do porta-mala, uma das chaves foi perdida durante um assalto na garagem, o som cansou da minha companhia e resolveu tocar em outras bandas (digo outro carro).
Meu filho, me olhou e disse, mãe você precisa trocar de garagem.

sábado, 13 de julho de 2013

Um sabiá no prédio ao lado


Meu filho sempre amou muito observar e ouvir pássaros. Não lembrava mais disto, hoje à tarde, ele me chama: - Mãe corre aqui, olha lá. E aponta, por uma janela, para um lugar em que eu não enxergo nada além de um prédio, depois vi um pássaro no telhado da construção. 
Meu filho estava para sair e me disse: - “Descobre que pássaro é aquele.” 
Eu adoro passarinhos, mas o meu repertório para identificá-los é muito restrito. Por causa da cor alaranjada no ventre, eu decido vou dizer que é um sabiá. Afinal de contas, é um dos meus pássaros preferidos.






Canto do Sabiá no Brasil
Tipo de som: Canto, Chamado/Apelo
Emissor do som: Indivíduo
Pássaro: Turdus rufiventris (Sabiá Laranjeira)
Sexo: Macho
Idade: Adulto
Emissor foi avistado: Sim
Contexto: Pousado
Local: Centro - Curitiba/PR-BR
Gravado em: 01/10/2012 04:00
Parou de cantar no início de dezembro.
Autor: Icoeng
Fonte: Wikimedia
Canto do sabiá 


Sabiá-laranjeira
                                                               Fonte: Wikipédia em 13/07/20

O sabiá-laranjeira: é uma ave muito comum na América Latina, identificado pela cor de ferrugem do ventre e por seu canto melodioso durante o período reprodutivo. 
É popular no Brasil, tendo se tornado por lei, em 2002, a ave-símbolo do país.
A ave também esteve presente no emblema oficial da Copa das Confederações de 2013.



Na literatura é frequentemente citado como o pássaro que canta o amor e a primavera, as origens, a terra natal, a infância, as coisas boas da vida, sendo imortalizado por Gonçalves Dias:


Canção do Exílio

 Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá.
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores.
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá.
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá.

Minha terra tem primores
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá.
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá.

Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras
Onde canta o sabiá.







Chico Buarque escreveu em 1968 com Tom Jobim uma canção onde o sabiá também figura em destaque, na música o destaque é para a fêmea “uma sabiá”.

Sabiá

Chico Buarque/Tom Jobim

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Uma sabiá

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Vou deitar à sombra
De um palmeira
Que já não há
Colher a flor
Que já não dá
E algum amor Talvez possa espantar
As noites que eu não queira
E anunciar o dia

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Não vai ser em vão

Que fiz tantos planos

De me enganar
Como fiz enganos
De me encontrar
Como fiz estradas
De me perder
Fiz de tudo e nada
De te esquecer

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
E é pra ficar
Sei que o amor existe
Não sou mais triste
E a nova vida já vai chegar
E a solidão vai se acabar
E a solidão vai se acabar




quarta-feira, 10 de julho de 2013

...........oops!!! ........puf,puf,puf!!!..


Resolvi reler publicações antigas arquivadas neste blog e encontrei esta que foi postada em novembro de 2008. Como passei por algo parecido esta semana, decidi postar novamente.




arte africana


Você já perdeu algum aluno quando saiu à passeio, não? Você precisa experimentar esta emoção.

Levamos algumas turmas da Escola na Feira do Livro, na volta fazendo a chamada dos que deveriam estar dentro do ônibus descobre-se que falta um.
Onde se meteu o aluno (nesta hora a imaginação corre solta e o stress também).
Um aluno nos diz:
- Ele só pode estar nos jogos (Lan house da Feira do livro).
Saímos e quem estava feliz da vida jogando (o nosso perdido).
Levou uma boa bronca. E a resposta dele foi: - Poderiam ter me deixado, eu sei voltar sozinho.
Expliquei que não era esse o problema mas o da responsabilidade que os professores têm em relação à todos os seus alunos. Não podemos voltar faltando nenhum aluno para a Escola.
O fato acima foi na quinta-feira à tarde.

....................

Sábado pela manhã vou para uma palestra na Feira do Livro, entro no ônibus e quem enxergo sentado com uma caixa de isopor para vender produtos no Mercado Público. O aluno que não andou (todo tempo) com o grupo dos alunos durante o passeio na Feira do Livro.

Sabe quando você olha algo e lembra por um instante vários momentos que você já viveu. Lembrei o quanto já participei de reuniões, movimentos, seminários, encontros, conferências (nacional, estadual, municipal) da criança e do adolescente. Do trabalho e da dificuldade em ser conselheira do CEDICA ou antes disso de participar de um projeto de Educ. Social de Rua em POA (14 anos atrás).

Na Escola sei da existência de muitos alunos que trabalham, isto não é novidade (mesmo com a bolsa família).

Quando me deparei com a cena do aluno indo para o centro realizar um trabalho informal, o meu lado racional olhou e quem acabou se estraçalhando foi o meu coração.
Ele (o coração) perguntou: - Quanto tempo mais veremos esta cena?

e

- Você sabe o quê acontece nas ruas da cidade???


Por isto, não ver é uma bênção.

Já sei, estava naqueles dias em que até novelas me fazem chorar. Meu lado racional abafando o sentimento saltou dizendo:

- sentir pena é diminuir o outro, você sabe disso.

- Como? Depois de ver, saber e presenciar diversas situações (até muito piores) você ainda se assombra com o trabalho infantil.
...............


Naquele momento eu compreendi perfeitamente o quê aconteceu na Feira do livro com este aluno. Ele estava usando a sua independência ( ele vai para o centro sozinho trabalhar) ao se afastar do grupo e ir para a Lan House. Simplesmente, ele foi fazer o quê tem de mais legal em ser criança: brincar, jogar e se divertir.

Hoje encontrei-me com ele e percebi que continua com o mesmo sorriso.


Ah!! resultado da semana passada perdi um casaco (que descobri hoje onde deixei) e um cano de 3 metros de comprimento (do palco).
Estou precisando de férias.

I- O Divã de uma mãe professora

Texto abaixo postado e escrito em 2008.


Qual é a utilidade da Escola? Por que tenho que ir para escola, é muito chato. Não aprendo nada, eu já sabia ler e escrever quando entrei. Argumentos de alguém com 9 anos, inteligente, alegre, era já próximo da meia noite de domingo, véspera do final do recesso escolar. Todo ano, início ou reinicio das aulas o mesmo papo.
A mãe, professora quase entra em desespero.
Segundo, o filho, ela, uma senhora, próximo da velhice e depois da morte.
Ela, uma professora (o que os outros/seus colegas irão dizer), não consegue convencer nem seu próprio filho da importância social da Escola: - "É uma obrigação e um dever, mas também se aprende muito lá, você precisa ir, sim. Isto, não será discutido novamente (ela sabe que no início do ano que vem será a mesma história)."
O filho comprou, no final de semana, o livro: "Os adultos podem virar gente?", divertidíssimo, se você não fosse a adulta a conviver com essa criatura em crescimento. Ele, consegue ler o livro, de mais de 100 páginas em 2 dias, e depois sobra ainda mais tempo, para inventar e bolar novos planos, e é claro que ele espera o total e irrestrito, apoio da sua querida mãe, para a execução de todos.
O pior de tudo, é que ela no fundo concorda, com muitas opiniões do garoto. A Escola, às vezes, é muito chata mesmo.

Na segunda-feira, ela encontra um livro sobre Frida Khalo, na biblioteca, nele se comenta, que a pintora gostava de ciência, mas não da Escola. Ela pensa, preciso mostrar a meu filho.
No local de trabalho, não é muito diferente. Professores com a cara, "queremos mais férias", retornar a rotina não é fácil, ainda mais às 7 horas e 30 minutos da manhã, entre quatro paredes, acompanhada de 30 adolescentes. Ela imagina: uma parte deles deve pensar e sentir como meu filho, outra parte deve ser como a personagem do livro que meu filho está lendo, uma peste, do tipo que pergunta no meio da aula "os professores soltam pum" e coisas, desse tipo.

A vida é muito divertida....

Tudo depende como você vê.





O Abraço Amoroso entre o Universo, a Terra (México), Eu, o Diego - Frida Kahlo (1907-1954).
" Solidão é uma ilha com saudade de barco"
Adriana Falcão

domingo, 7 de julho de 2013

Um lugar de memória afetiva - Mercado Público de Porto Alegre


Foto 1


Carrego no meu coração e no meu jeito de ser um pedaço de cada uma das cidades em que já morei. 

Alguns anos atrás morava muito próximo ao Mercado Público, neste período passei a conhecer melhor e a frequentar muito este espaço. 
Hoje ele faz parte da minha memória afetiva da cidade. Lembro que quando estava grávida, sempre que possível passava por lá para comprar peixe e abacaxi (meus desejos de grávida) e aproveitava para tomar sorvete na banca 40 ou um café moído na hora, em outra banca. Foram muitas vezes que estívemos neste lugar para encontrarmos amigos para conversar, ouvir música, para almoçar ou jantar, para participar de alguma atividade de trabalho, política ou cultural da cidade.

Como todos os moradores da cidade estamos tristes pelo incêndio. Depois reagiremos, com mãos a obra na reconstrução deste patrimônio cultural, histórico e afetivo.
Porto Alegre tem em seu Mercado uma síntese da cidade, ou seja é um lugar  preenchido fortemente com cores, sons, cheiros, sabores, religiosidade, arte, música, conversas, política, encontros, gente... 



                Banca 40 do Mercado Público de POA/Foto Autoria Wu


Informaçõe sobre o Mercado Público de Porto Alegre foram retirados do site:


Patrimônio Histórico e Cultural de Porto Alegre, o Mercado Público Central foi inaugurado em 1869 para abrigar o comércio de abastecimento da cidade. Tombado como um Bem Cultural, tornou-se um ícone de compras da Capital do Estado.

O Mercado possui, hoje, 110 estabelecimentos, com as seguintes atividades:

Açougues, peixarias e frutos do mar, restaurantes (cozinha macrobiótica, cozinha japonesa, cozinha portuguesa, carnes variadas e um com buffet), lancherias, pastelaria, padarias, fruteiras (nacionais e importadas), verduras e legumes, alimentos para animais, sementes, mudas de plantas, artesanato regional, bomboniere, lotéricas, bancas de revistas e jornais, flora e artigos para umbanda, peixes ornamentais e produtos para aquários, cafeteria, barbearia, livraria.

O Mercado oferece os mais variados produtos, como por exemplo:
Produtos Regionais:
Erva-mate, chás, condimentos, cuias para chimarrão, bucha natural (esfregão), charque, mel.

Produtos Naturais:
Aveia, farinhas e grãos integrais, açúcar mascavo, soja, multimistura, tofú, pães, bolos, granolas.

Especiarias:
Frutas secas nacionais e importadas, doces de frutas, lácteos, queijos, patês, manteigas, presuntos, azeitonas, bacalhau, peixe defumado, vinhos, cachaças, produtos para confeiteiros e sorveteiros, chocolate.
Exclusividades

Venda à granel de cereais, farinhas; fiambres cortados na hora; café torrado e moído de várias procedências; salada de frutas, o peixe mais fresco da cidade, sementes e ervas medicinais variadas.

Cultura

Além de toda a variedade de produtos, o Mercado Público também se caracteriza por ser um local onde acontecem atividades culturais, como shows, exposições artísticas, desfiles, saraus, etc.


                              
                                                    Foto 2

Curiosidades

Você sabia...

* que cerca de 150 mil pessoas circulam todos os dias pelo local e, que, na semana da Feira do Peixe e na semana que antecede o Natal, passa de 250 mil pessoas?


* que no Mercado Público são utilizadas 380 lâmpadas para sua iluminação, fora a iluminação de cada loja ou banca?

* que os primeiros trabalhadores do Mercado Público chegam por volta das 5h da manhã?

* que as duas grandes padarias do Mercado funcionam 24h por dia? 




                                            Foto 3 


* que o Mercado, após a reforma que finalizou em 1997, passou a contar com 2 escadas rolantes e 2 elevadores, para facilitar a circulação pelo seu interior?

* que o Mercado foi a primeira construção em alvenaria a ocupar um quarteirão inteiro em Porto Alegre? 

* que o Mercado possui uma central de refrigeração e uma central de gás localizados fora de seu prédio, na Praça Revolução Farroupilha?

* que o portão central do Mercado, no Largo Glênio Peres, possui uma placa mostrando a altura das águas durante a enchente de 1941, que alagou Porto Alegre?

* que o Mercado Público é referência para as religiões afro-umbandistas, por possuir, enterrado no seu centro, o Bará do Mercado?

* que acontece no Mercado o projeto Vozes do Mercado, uma teatralização na visita guiada por atores às bancas e caminhos do Mercado Público? O espetáculo é gratuito com duração de 50 minutos ...



                                    Foto 4 




Fotos 1, 2, 3, 4, 5  foram retiradas do site:


                                                                  
                                                   Foto 5



Fotos antigas do Mercado em: 




E quem combina mais com o Mercado Público que o inesquecível Lupicínio Rodrigues, sempre o frequentou, no Bar Naval, sentava em uma mesa e recebia do garçom sempre que ia uma folha de papel, um lápis e uma caixa de fósforo.



Lupicínio Rodrigues nasceu em Porto Alegre (RS), em setembro de 1914. 
Lupe, como era chamado desde pequeno, tinha três grandes paixões em sua vida: a música, o bar e as mulheres. 
Lupicínio buscava em sua própria vida a inspiração para suas canções, onde a traição e o amor andavam abraçados, afogando as mágoas na mesa de um bar - onde, finalmente, conseguia unir suas paixões: amor, música e boemia. Faleceu na capital gaúcha em 27 de agosto de 1974.





Canta a música de Lupicínio, o musical e poeta Paulinho da Viola


Nervos de aço

Lupicínio Rodrigues

Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
Ter loucura por uma mulher
E depois encontrar esse amor, meu senhor
Nos braços de um tipo qualquer 
Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
E por ele quase morrer
E depois encontrá-lo em um braço
Que nenhum pedaço do meu pode ser
Há pessoas com nervos de aço
Sem sangue nas veias e sem coração
Mas não sei se passando o que eu passo
Talvez não lhes venha qualquer reação
Eu não sei se o que trago no peito 
É ciúme, despeito, amizade ou horror
Eu só sei é que quando a vejo
Me dá um desejo de morte ou de dor



sexta-feira, 5 de julho de 2013

A dimensão lírica do cotidiano - Carlos Drummond de Andrade


Hoje tive que ir ao supermercado, no meio do caminho (depois da seção de frutas, carnes, verduras, sementes, bolachas, produtos de limpeza e etc.) tinha um livro.
Livros não constavam na minha lista, mas não tive dúvida do que fazer: coloquei (mentalmente) a palavra livro nos itens a serem comprados.





O livro com o qual sai feliz, esta manhã de um supermercado foi: “Carlos Drummond de Andrade – A dimensão lírica do cotidiano" - oitavo volume da coleção dicionários.






Carlos Drummond de Andrade nasceu, em Itabira, Minas Gerais, no ano de 1902, e faleceu no Rio de Janeiro, em 1987.
Poeta, contista e cronista, considerado como um dos mais influentes escritores brasileiros e com uma enorme abrangência e influência sobre sucessivas gerações de leitores.



Como o livro citado acima, foi organizado em forma de dicionário, escolhi algumas palavras com a letra S, para ilustrar o lirismo deste maravilhoso poeta.










Sol 

“O sol é um pintor bêbado reformulando o céu/ e até as montanhas e as árvores. / Convida a gente a viver em estado de pedraria, / de sonho, incêndio, milagre.”
(Boitempo, “Estes crepúsculos”).



São Jorge 


“São Jorge é meu espanto. / Ainda não vi santo montado. / Santos naturalmente andam a pé, / atravessam rios a vau e a pé, / fazem milagres a pé. / (...) São Jorge usa botas como os fazendeiros/ de minha terra. E não é fazendeiro. São botas de guerra”.
(Boitempo, “São Jorge na penumbra”).




Sentimento do mundo

“Tenho apenas duas mãos/ e o sentimento do mundo, / (...) minhas lembranças escorrem/ e o corpo transige/ na confluência do amor. / (...) Sinto-me disperso, / anterior a fronteiras, / humildemente vos peço/ que me perdoeis”.
(Sentimento do mundo, “Sentimento do mundo”).



Só resta ao homem

“(...) a dificílima dangerosíssima viagem/ de si, a si mesmo: / por o pé no chão/ do seu coração, / experimentar, / colonizar, / civilizar, / humanizar, o homem/ descobrindo em suas próprias e inexploradas entranhas/ a perene e insuspeitada alegria/ de con-viver”.

(As impurezas do branco, “O homem; as viagens”).



Simples encontro

“(...) Porque, se os acontecimentos não me interessam, a realidade, que é mágica, me interessa muito. Este simples encontro entre nós é cheio de significação, e não foi por acaso. Viver – mas você já sabe disso – é muito perigoso...”

(Cadeira de balanço, “Na calçada”)







No meio do caminho


Carlos Drummond de Andrade


No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho 
tinha uma pedra 
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas. 
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.