terça-feira, 2 de julho de 2013

Escritor e idealizador do Movimento por um Brasil literário

Quem conheceu ou participou de alguma palestra com o escritor Bartolomeu C. Queirós, sabe que ele tinha uma "Grande alma literária com coração santo". (Gabriel Villela).

Tive esta sorte, sua prosa era simples e poética encantando a alma dos que o assistiam, em um dos tantos encontros literários, em uma das edições da Feira do livro da cidade. Eu já o conhecia, através dos seus livros infantojuvenis, mas descobri neste dia um outro Bartolomeu, que além de ser um grande poeta, era um educador, um artista, um filósofo e sabia como ninguém partilhar a sua experiência de vida e a sua paixão pelo mundo.



Abaixo trechos de um de seus últimos livros "Vermelho Amargo":


" O amor, ao anunciar-se, assustou-me. Invadiu-me de repente, sem pedir licença ou por favor. E naquele tempo se usava pedir desculpas para ser feliz. A felicidade nos era interditada. Toda tristeza prenunciava uma felicidade que não chegava. Dormi e, ao despertar-me, já amava. Acordei-me com saudade." (página 25)


"Viver exigia legendar o mundo. Cabia-me o trabalho exaustivo de atribuir sentidos a tudo. Dar sentido é tomar posse dos predicados. Trabalho incessante, este de nomear as coisas. Chamar pelo nome o visível e o invisível é respirar consciência. Dar nome ao real que mora escondido na fantasia é clarear o obscuro." ( página 62)



"Sem possuir um olho de vidro, diviso o mundo vivido do mundo sonhado, com a nitidez da loucura. Meu real é mais absurdo que minha fantasia. O presente é a soma de nostalgias, agora irremediáveis. A memória suporta o passado por reinventá-lo incansavelmente. Tento espantar o presente balbuciando uma nova palavra."(página 60)



"Coração do outro é uma terra que ninguém pisa. Minha mãe repetia essa oração quando recebia a visita de muda melancolia. Meu coração estava pisado pelo amor, e só eu sabia. Era um caminhar manso como pata de gato traiçoeiro. Fugia com meu amor para todas as penumbras. Seis minutos eram suficientes para a saudade transbordar. Fui, desde pequeno, contra matar a saudade. Saudade é sentimento que a gente cultiva com o regador para preservar o cheiro de terra encharcada.(página 44)




Bartolomeu Campos de Queirós foi muito mais do que um escritor.








Nascido em 1944, viveu a infância em Papagaio (MG). Com mais de 40 livros publicados (alguns deles traduzidos para inglês, espanhol e dinamarquês), formou-se em educação e artes, e criou-se como humanista. 
Estudioso da filosofia e da estética, utilizou a arte como parte integrante do processo educativo. Cursou o Instituto de Pedagogia em Paris e participou de importantes projetos de leitura no Brasil como o ProLer e o Biblioteca Nacional, dando conferências e seminários para professores de leitura e literatura. Foi presidente da Fundação Clóvis Salgado/ Palácio das Artes e membro do Conselho Estadual de Cultura, ambos em Minas Gerais, sendo também muito convidado para participar de júris e comissões de salões, além de curadorias e museografias.

Idealizou o Movimento por um Brasil Literário, do qual participava ativamente. 

Por suas realizações, Bartolomeu colecionou medalhas: Chevalier de l’Ordre des Arts et des Lettres (França), Medalha Rosa Branca (Cuba), Grande Medalha da Inconfidência Mineira e Medalha Santos Dumont (Governo do Estado de Minas Gerais). Recebeu, ainda, láureas literárias importantes, como Grande Prêmio da Crítica em Literatura Infantil/Juvenil pela APCA, Jabuti, FNLIJ e Academia Brasileira de Letras. Faleceu em 16 de janeiro de 2012.

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