Hoje tive que ir ao supermercado, no meio do caminho (depois da seção de frutas, carnes, verduras, sementes, bolachas,
produtos de limpeza e etc.) tinha um livro.
Livros não constavam na minha
lista, mas não tive dúvida do que fazer: coloquei (mentalmente) a palavra livro nos itens a serem comprados.
O livro com o qual sai feliz, esta manhã de um supermercado foi: “Carlos Drummond de Andrade – A dimensão lírica do cotidiano" - oitavo volume da coleção dicionários.
Carlos Drummond de Andrade nasceu,
em Itabira, Minas Gerais, no ano de 1902, e faleceu no Rio de Janeiro, em 1987.
Poeta, contista e cronista, considerado como um dos mais influentes escritores brasileiros
e com uma enorme abrangência e influência sobre sucessivas gerações de leitores.
Como o livro citado acima, foi organizado em forma de dicionário, escolhi algumas palavras com a letra S, para ilustrar o lirismo deste maravilhoso poeta.
Sol
“O sol é um pintor bêbado reformulando o céu/ e até as montanhas e as árvores. / Convida a gente a viver em estado de pedraria, / de sonho, incêndio, milagre.”
(Boitempo, “Estes crepúsculos”).
São Jorge
“São Jorge é meu espanto. / Ainda não vi santo montado. / Santos naturalmente andam a pé, / atravessam rios a vau e a pé, / fazem milagres a pé. / (...) São Jorge usa botas como os fazendeiros/ de minha terra. E não é fazendeiro. São botas de guerra”.
(Boitempo, “São Jorge na penumbra”).
Sentimento do mundo
“Tenho apenas duas mãos/ e o sentimento do mundo, / (...) minhas lembranças escorrem/ e o corpo transige/ na confluência do amor. / (...) Sinto-me disperso, / anterior a fronteiras, / humildemente vos peço/ que me perdoeis”.
(Sentimento do mundo, “Sentimento do mundo”).
Só resta ao homem
“(...) a dificílima dangerosíssima viagem/ de si, a si mesmo: / por o pé no chão/ do seu coração, / experimentar, / colonizar, / civilizar, / humanizar, o homem/ descobrindo em suas próprias e inexploradas entranhas/ a perene e insuspeitada alegria/ de con-viver”.
(As impurezas do branco, “O homem; as viagens”).
Simples encontro
“(...) Porque, se os acontecimentos não me interessam, a realidade, que é mágica, me interessa muito. Este simples encontro entre nós é cheio de significação, e não foi por acaso. Viver – mas você já sabe disso – é muito perigoso...”
(Cadeira de balanço, “Na calçada”)
No meio do caminho
Carlos Drummond de Andrade
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
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