sábado, 3 de agosto de 2013

Iemanjá a Rainha do Mar - Histórias dos deuses africanos que vieram para o Brasil


Como as histórias de Xangô chegaram até nós:

Há muitas coisas em comum entre o Brasil e a África além de serem banhados pelo Atlântico e se situarem no hemisfério sul.
O Brasil foi primeiro habitado pelos índios e depois colonizado pelos europeus. Na formação do povo brasileiro participaram também os negros africanos, que foram trazidos para o trabalho escravo. 
Bem mais tarde chegaram povos da Ásia, de outros países da América, enfim, de tudo quanto é parte do mundo. Os povos que formaram o Brasil trouxeram seus costumes e suas tradições, trouxeram suas crenças, seus santos, seus deuses.




Os personagens do livro " Xangô, o trovão" de Reginaldo Prandi, são deuses do povo africano chamado Iorubá. 
No tempo da escravidão no Brasil, muitos Iorubás foram caçados em sua terra e aprisionados e trazidos ao Brasil, em navios negreiros para trabalhar como escravos.
Os negros africanos trouxeram suas crenças, seus deuses, os orixás e aqui refizeram a sua religião de matriz africana. No candoblé, no batuque, na umbanda e nas outras religiões afro-brasileiras os orixás passaram a ser cultuados por negros, brancos, mestiços.... 



Escolhemos uma das histórias do livro para apresentar no blog e  tem como personagem central:  Iemanjá a "Rainha do mar".






O que fez o mar para se defender do descaso dos humanos

Iemanjá era filha de Olocum, a Senhora do Mar.
Um dia Iemanjá foi viver no continente e sua mãe lhe deu uma cabaça mágica, que a ajudaria numa situação de perigo. Iemanjá se casou com o rei Oquê, a Montanha, e com ele viveu em paz por muito tempo.
Mas um dia os dois se desentenderam e Iemanjá fugiu de casa correndo. Oquê foi atrás, em perseguição. Na fuga desesperada, temendo ser alcançada, Iemanjá tropeçou e caiu na estrada e, na queda, a cabaça se partiu. A água da cabaça encharcou o chão e ali Iemanjá se transformou num Rio. 


 

O Rio pôs-se a correr em direção ao Mar. Era Iemanjá fugindo para a casa da mãe. Então, para impedir que a esposa escapasse, Oquê se transformou na Montanha e se atravessou no caminho do Rio. 
Iemanjá gritou por seu filho Xangô, o Trovão, e ele, em meio a trovoadas, lançou um raio e o raio abriu uma fenda na Montanha. 

O Rio passou pela fenda, seguiu seu curso e chegou em segurança ao Mar.
Iemanjá voltou para a casa de Olocum.
Quando Iemanjá herdou da mãe o reino do mar, tudo ali era uma preciosa maravilha. Naquele tempo, a superfície do mar era calma e cristalina e o fundo das águas limpo e cheio da vida.
Quando os homens habitaram a terra, quiseram também dominar os mares.
Os homens começaram a tratar o mar como tratam a terra: com desprezo, descuido e desamor.

Tudo o que para eles era lixo, jogavam no mar. O reino de Iemanjá ficou imundo e feio, os peixes escassearam, as algas perderam o esplendor, as conchinhas que cobriam as areias da praia como minúsculas estrelas brilhantes logo rarearam. Baleias, golfinhos, polvos, cavalos-marinhos, focas, caramujos, lulas, siris, lagostas, ostras, mariscos, mexilhões e todas as aves maravilhosas que vivem do mar, enfim, todas as criaturas que habitam o reino de Iemanjá tiveram sua casa prejudicada pelo descaso dos humanos.


Iemanjá, o Mar, foi se queixar o Olorum, o Senhor supremo. Olorum ficou com pena de Iemanjá e lhe deu novos poderes. Com eles, Iemanjá criou as ondas e as marés, que jogam de volta à praia, às vezes com violência, o lixo e os dejetos que os homens lançam ao mar. Com a fúria de ondas, vagas, vagalhões, ressacas, Iemanjá defende seu reino marinho.


 

Iemanjá se defende a si mesma da irresponsabilidade humana.
Seu poder é grande e ela muitas vezes castiga os humanos com dureza. 
Ela afoga os pescadores imprudentes e lança seus corpos inertes à praia.
Defende seus peixes, suas conchas, suas algas e tudo o mais que existe sob as águas e na sua superfície.
Por isso os pescadores que vão ao mar em busca de sustento sabem que sua sorte depende da boa vontade de Iemanjá.
Eles oferecem muitos presentes a Iemanjá, o Mar, conforme Ifá, o Adivinho, não cansa de aconselhar. 
Fazem festas para Iemanjá nas praias.
Levam para ela flores, perfumes, espelhos e pentes e tudo o mais que é bonito e faz feliz o coração de uma mulher.
Eles a adoram e a chamam de mãe. Adoram Iemanjá, cujo nome quer dizer Mãe dos Peixes na língua dos africanos iorubás. Também a chamaram de Odoiá, que quer dizer Mãe do Rio na língua dos iorubás. Eles a festejam e a chamam de Rainha do Mar.


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