Uma das histórias que gosto muito de contar e os alunos de ouvir.
Retirada do livro "Contos de animais- do mundo todo", Recontados por Naomi Adler e ilustrações de Amanda Hall.
Magia na Floresta Amazônica
Brasil
Houve um tempo em que não havia
escuridão, nem noite, nem sono.
Só havia luz, dia e despertar.
Mas as velhas árvores que viviam na Floresta Amazônica sabiam muita coisa. Foi
sua sabedoria que tirou a noite do rio e a trouxe para o mundo.
As velhas árvores lançaram sua
magia por toda a extensão da floresta, e
assim nasceram todos os seres animados.
Os gravetos e as raízes se transformaram em mamíferos. As folhas
das árvores se transformam em
pássaros.
As pedras e
seixos dos rios transformaram-se em peixes e caracóis. Foram criados o tucano,
o beija-flor e o papagaio. Foram criados o tatu, o tamanduá, a anta e a onça.
Foram criadas a
serpente, a piranha e a tartaruga.
Tudo isso aconteceu exatamente no momento em que as velhas árvores trouxeram a noite para a terra.
Tudo isso aconteceu exatamente no momento em que as velhas árvores trouxeram a noite para a terra.
No meio da escuridão, a Serpente
vinha rastejando pela margem do rio, contemplando seus olhos bonitos refletidos
na água.
E ela cantava:
E ela cantava:
Brilho do meu olhar,
Na magia da noite
Quero ver você dançar.
E seus olhos pularam fora de sua
cabeça e foram dançar na superfície da água.
Naquele momento, a Onça estava
andando pela margem do rio, contemplando seu corpo bonito refletido na água. De
repente ela viu os olhos da Serpente dançando na superfície da água.
Ela se abaixou no meio do mato,
em silêncio, muito quieta, e ficou observando. Dali a pouco, a Serpente cantou:
Brilho do meu olhar,
Na magia da noite
Quero ver você voltar.
E seus olhos, sempre dançando,
voltaram à cabeça dela.
A Onça ficou impressionada com o
que acabava de ver. Foi até Serpente e perguntou:
- Como é que você consegue fazer
uma coisa tão maravilhosa?
A Serpente, feliz por ter a
oportunidade de se exibir, repetiu sua canção. Novamente seus olhos pularam
fora de sua cabeça e, como vaga-lumes, dançaram pelo rio sob o luar. Dali a
pouco, a Serpente cantou de novo e seus olhos voltaram dançando.
A onça ficou mais impressionada
ainda.
- Eu queria que meus olhos também
dançassem – ela disse,- Por favor, me ensine esse truque.
A Serpente concordou, mas
advertiu:
- Isso não é truque, é magia. E
toda magia pode ser perigosa!
Mas a Onça não se importou, ela
queria que seus olhos dançassem na água. Então a Serpente começou a cantar:
Brilho do seu olhar,
Na magia da noite
A onça quer ver você dançar.
Na mesma hora, os olhos da Onça
pularam fora e foram dançar no meio do rio. Depois de um tempo, a Serpente
cantou:
Brilho do seu olhar;
Na magia da noite
A onça quer ver você voltar.
A Onça estava tão intrigada, que
ela quis ver aquilo de novo.
- Maravilhoso! Faça outra vez.
- Não, é perigoso- replicou a
Serpente.
- Por favor, por favor, só mais
uma vez – suplicou a Onças.
Brilho do seu olhar,
Na magia da noite
EU quero ver você voltar.
E os olhos da Onça foram dançando
até a Serpente, que pos a língua para fora e os engoliu. Então ela virou as
costas e entrou na escuridão da floresta. A pobre Onça não enxergava nada.
Amedrontada e sozinha, ela saiu perambulando pela floresta, sem saber para onde ia, sem saber o que fazer. Sem olhos, ela não podia caçar e estava condenada a morrer de fome.
Desesperada, deitou debaixo de uma velha árvore. Pôs as patas sobre as órbitas vazias de seus olhos e começou a chorar baixinho.
Amedrontada e sozinha, ela saiu perambulando pela floresta, sem saber para onde ia, sem saber o que fazer. Sem olhos, ela não podia caçar e estava condenada a morrer de fome.
Desesperada, deitou debaixo de uma velha árvore. Pôs as patas sobre as órbitas vazias de seus olhos e começou a chorar baixinho.
A árvore ficou com muita pena da
Onça e resolveu ajuda-lá. Usando seus poderes mágicos, chamou seu amigo, o
Gavião-de-penacho. O Gavião-de-penacho chegou e ficou sobrevoando a Onça.
- Por que está tão triste? – ele
perguntou.
A Onça contou a estranha
história. O pássaro disse:
- É, estamos mesmo numa época
muito estranha. Na escuridão da noite, muitas coisas misteriosas podem
acontecer. Espere aqui, vou ver o que posso fazer para ajudá-la.
Com essas palavras, o
Gavião-de-penacho levantou voo e foi olhando, ouvindo, até que seus olhos
argutos viram a Serpente rastejando para um lago. Voou até ela e disse:
- Ouvi dizer que você é capaz de
fazer seus olhos dançarem na superfície da água.
- É verdade – respondeu a
Serpente.
O Gavião-de-penacho disse:
- Pois eu não acredito. Isso é
impossível.
- Com magia, tudo é possível –
replicou a Serpente.
- Não acredito em magia. Se é verdade, por
que não me mostra seus olhos dançando sobre a água? – perguntou o Gavião-de-
penacho.
A serpente, feliz por ter a oportunidade de se exibir, cantou:
Brilho do meu olhar,
Na magia da noite
Quero ver você dançar.
Seus olhos pularam fora e começaram a dançar no lago. O Gavião-de-penacho sobrevoou a água, de repente, fez um voo rasante e pegou os dois olhos com o bico. Depois voltou para a escuridão da floresta e voou até a velha árvore, onde a Onça continuava esperando.
A serpente, feliz por ter a oportunidade de se exibir, cantou:
Brilho do meu olhar,
Na magia da noite
Quero ver você dançar.
Seus olhos pularam fora e começaram a dançar no lago. O Gavião-de-penacho sobrevoou a água, de repente, fez um voo rasante e pegou os dois olhos com o bico. Depois voltou para a escuridão da floresta e voou até a velha árvore, onde a Onça continuava esperando.
Pairando sobre a Onça, o Gavião-
de- penacho deixou os dois olhos caírem bem dentro das órbitas dela.
A Onça voltou a enxergar, e muito
melhor do que antes. Ela olhou seu reflexo na água e ficou admirada com a
beleza e o brilho de seus novos olhos.
- Obrigada, amigo. Como posso
recompensá-lo? – ela disse.
- Estou com muita fome. Por que
não caça uma anta e traz para mim? É minha carne favorita – replicou o
Gavião-de-penacho.
A Onça caçou uma anta e os dois
novos amigos comeram juntos um jantar maravilhoso.
A partir daquela noite, a Onça
sempre deixa uma parte de sua presa para o Gavião-de-penacho, em agradecimento
por seus novos olhos cintilantes. Quanto aos olhos da Serpente eles voltaram a
crescer, fixos, brilhantes, resplandecentes, mas nunca mais dançaram na noite
mágica.
A escritora conta-nos que descobriu
esta história em 1986, em Londres, com uma índia brasileira chamada Inti Ramos.
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