quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Sugestão de referências teóricas sobre a literatura infantiljuvenil nos anos iniciais no ensino fundamental


Atualmente, existe no mercado editorial brasileiro uma enorme quantidade de livros teóricos sobre a literatura infantojuvenil. 

Alguns sugestões de bibliografia sobre este tema e que estão disponíveis em diversas escolas públicas do ensino fundamental, pois foram enviadas pelo Ministério da Educação, como apoio à formação dos professores.





  • Literatura – Coleção explorando o ensino- volume 20- Coordenação Aparecida Paiva e Outros, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica,Brasília, 2010.



  • Literatura Infantil: Teoria, Análise, didática. Nelly Novaes Coelho, 1º edição, São Paulo: Moderna, 2000.




  • Leitura nas séries iniciais- uma proposta para formação de leitores de literatura- Elizabeth Baldi- Porto Alegre: Editora Projeto, 2009.



  • Literatura na formação de leitores e professores- Joseane Maia. São Paulo: Paulinas, 2007.





  • Literatura infantil Brasileira – Um guia para professores e promotores de leitura- Vera Maria Tieztmann Silv. 2ª edição, Goiânia: Cânone Editorial, 2009.



Oxum e seu mistério - Consciência Negra e mulheres


Oxum, orixá d'água doce

Das "histórias de princesas" que contei neste mês, a postada aqui, foi a preferida da maioria das turmas. Talvez o motivo seja o mel de Oxum (e mais o seu perfume e a sua dança); ou talvez por Ogum ter fugido da cidade para uma floresta, por estar cansado demais de tanto trabalhar para os outros. Além disso no sincretismo religioso Ogum é identificado por São Jorge, Santo extremamente querido nas comunidades.






Oxum e seu mistério


Oxum era muito linda e perfumada e todos os meninos e meninas desejavam ficar perto dela. Desde criança, Oxum tinha como atributos a beleza, a vaidade, o atrevimento, a genialidade, a determinação e a maternidade. 

Sabia ser guerreira, mas preferia cuidar de sua beleza: de unhas, de seus cabelos, de sua pele e das jóias de ouro que só ela possuía. Mas a princesa menina Oxum tinha conhecimentos que ninguém mais tinha: ela conseguia hipnotizar com a sua beleza quem ela quisesse. Suas cores preferidas eram amarelo-ouro e dourado.

Oxum, era uma princesa menina que encantava a todos com a sua beleza e com o seu perfume. Gostava de usar seu adê, sua coroa toda de ouro, tendo nas pontas ouro no formato de gotinhas de chuva. Era um encanto, um brilho só.

Como princesinha Oxum era vaidosa! Andava o tempo todo com um espelho na mão esquerda, mas não se esquecia de sua adaga na mão direita.
Ogum também era amiguinho de Oxum, mas por ela ele nutria um sentimento de bem-querer profundo e ele pensava: “Como eu gosto de Oxum!”

O menino Ogum, mesmo criança, trabalhava muito e tinha a responsabilidade de construir objetos de ferro: utensílios e ferramentas agrícolas em geral. Ele era o melhor e nem homens adultos conseguiam fazer o que o menino Ogum conseguia.

Mas, um dia, Ogum se cansou de tudo aquilo, parou de produzir tais objetos e decidiu a ir morar sozinho, no meio da floresta. Com o tempo, os objetos que só Ogum sabia fazer começaram a fazer falta na cidade e as pessoas já não tinham mais instrumentos para plantar e colher. 
Assim, todas as pessoas começaram a passar fome.

Vários amigos de Ogum, menos Xangô, foram procurá-lo na floresta, mas foram expulsos de lá. Então, todos os homens daquela cidade se reuniram em uma assembleia para discutir o que fariam com o menino Ogum.

Oxum, muito atrevida, foi à assembleia e disse:
- Senhores, eu quero ir à floresta tentar trazer meu amigo Ogum de volta para a cidade.
Todos duvidaram do sucesso dela, mas resolveram deixá-la tentar.


Oxum vestiu uma saia com lenços pendurados e perfumados que, com o vento, esvoaçavam. Tirou seu adê, sua coroa, soltou seus lindos cabelos negros e crespos e colocou os pés em contato com a terra. E assim, foi em direção ao sítio onde Ogum estava acampado.

Quando a princesa Oxum avistou a cabana de Ogum, fingindo não ter visto nada, começou a dançar com a graça das águas calmas, delicada... suave... num  leve vaivém. 
Dos movimentos que seu corpinho de princesa fazia, um perfume delicioso exalava e este perfume chegou à cabana de Ogum.
- Que perfume delicioso é este? – perguntou-se o menino Ogum.



E saiu para ver de onde vinha o perfume. Eis que viu sua querida Oxum dançando lindamente com o vento. Mas Oxum fazia de conta que não estava vendo seu amigo Ogum.

Conforme Oxum dançava para Ogum, que já estava escondido entre os arbustos, cada vez mais ela se aproximava dele. Quando Oxum estava bem pertinho dele, já hipnotizado por tanta graça e beleza, viu uma colmeia de abelhas e disse:
- Abelhas, abelhinhas. Derramem seu mel em minhas mãos para que eu possa adoçar o coração de um menino que precisa voltar para seus afazeres na cidade.

As abelhas, encantadas com a beleza de Oxum e com a delicadeza com que havia feito o pedido, abriram uma fenda na colmeia e o mel começou a escorrer nas mãos de Oxum. O mel brilhante como o ouro que escorria nas mãos de Oxum era passado na boca do menino Ogum, que estava adorando toda a doçura. Oxum cantava:
- Tome o mel, meu amigo, mas venha para a cidade comigo.




Ogum saboreava o mel, acompanhava a dança de Oxum e entre mel, perfume e dança, quando percebeu, já estava na cidade.
Todos os amigos do menino Ogum, crianças e adultos, começaram a aplaudir o seu retorno; assim os utensílios voltariam a ser feitos e Ogum reassumiria suas funções de ferreiro.

Ogum fez de conta que voltou por conta própria e disse:
- Prometo nunca mais abandonar a cidade nem meu ofício de ferreiro. Agradeçam a Oxum, que me fez voltar para cá.
E todas as pessoas que lá estavam gritaram:
- Ora, iê, iê, princesinha Oxum.


Do Livro: Omo- Oba – Histórias de princesas- de Kiusam de Oliveira e ilustrações de Josias Marinho.




Desenhos de alunos de 8 anos sobre a história. 
Estou sem scanner e máquina fotográfica (tem uns períodos que estragam tantas coisas) então as  imagens ficaram péssimas.


Para conhecer um pouco mais sobre Oxum:








Para ler sobre Ogum:







Ogum no sincretismo religioso é identificado por São Jorge





terça-feira, 26 de novembro de 2013

II - Prevenções, conclusões e prioridades para o final do ano

Exposição: Ashes and Snow/Colbert



Doutoramento final



Finda a minha tese
de doutoramento
após anos de reclusão e afastamento,
apresento agora a primeira conclusão:
ser humano é frágil mesmo,
precisa de Deus e hormônios,
tese, psicoterapia, amigo e cinema.


Celso Gutfreind




Olhando postagens que não foram publicadas encontrei uma com o poema acima.

Aproveito para utilizá-lo neste momento que aproxima-se o final do ano. 

Um ano diferente,  aprendi:  a ser cuidadora ( e  diga-se de passagem é muito estressante e pouco valorizado este trabalho), ser mais flexível, priorizar a família acima de qualquer coisa, ter muita paciência, confiar e acreditar que tudo dará certo (bom pelo menos na maior parte do tempo), que gerar expectativas é a maior furada, viver é correr riscos e o perigo sempre nos rodeia, mas como andamos distraídos ou concentrados demais não o percebemos. 

"Bentidas as coisas que não sei
(....)
Benditas coisas que não sejam bentidas"

Mart'nalia e Zélia Duncan



Oiá e o búfalo interior - Consciência Negra e Mulheres



Mais uma bela história contada e recontada pelo povo africano (yorubá) e afro-brasileiro retirada do livro:


Nossa homenagem aos ancestrais e a escritora que nos proporcionaram esta maravilhosa viagem à Grande Mãe Terra.


"OMO- OBA- Histórias de princesas" de Kiusam de Oliveira com ilustrações de Josias Marinho.





Oiá e o búfalo interior

A beleza era muito conhecida e ela era disputada por vários príncipes e pessoas comuns. 
Desde criancinha, Oiá tinha como atributo a beleza, a graça, a rapidez, a determinação e a genialidade. Era de fato uma menina guerreira. 

Mas a menina Oiá tinha conhecimentos que ninguém mais possuía: ela podia se transformar-se em animais. Dentre eles, o búfalo era o que ela mais gostava.

Oiá era uma linda princesa menina, muito conhecida pela sua determinação. Gostava muito de usar seu adê, isto é, sua coroa de palha da costa enfeitada com búzios. 

Também levava sempre em sua mão esquerda seu erukerê, seu cetro de princesa, que também servia para espantar os mosquitos e alguns espíritos. Suas cores preferidas eram: rosa, branco e vermelho.



Ogum era o grande amigo de Oiá e quando eles se encontravam, tudo virava uma grande brincadeira e aproveitavam para lutar, cada um com sua ferramenta preferida: Oiá com a sua adaga e Ogum com a sua espada.

No melhor da brincadeira, Oiá sempre saía dizendo que precisava fazer algo que não podia contar para ninguém, o que despertava a curiosidade de seu amiguinho Ogum.

Um dia, Oiá foi a uma clareira na floresta e retirou sua coroa. Ogum disse:
- Já sei, princesa Oiá, você vai brincar com o vento.
- Isso mesmo, meu amigo, vou rodopiar com o vento – respondeu Oiá.

E Ogum ficou ali, paradinho a admirar a graça e a beleza de Oiá rodopiando com o vento como só ela sabia fazer, e pensava: “Como a princesinha é linda! Olha o vento de Oiá”.

No melhor da brincadeira, Oiá disse:
- Preciso parar, tenho algo importante para fazer que é de minha natureza, não posso deixar de cumprir com esta tarefa.


Neste dia, Ogum resolveu segui-la. No meio da floresta, pé ante pé, tentando não fazer barulho, Ogum viu sua amiguinha parar, olhar para os lados e ir atrás de uma árvore, quando...
- Mas o que é isto? – gritou Ogum.

Era um búfalo, um búfalo filhote, um búfalo que sorria e corria como o vento e que, conforme corria, fazia levantar um poeirão vermelho do chão. Ogum não esperou nem um minuto: saiu correndo atrás daquele búfalo, sem entender o que estava acontecendo. 

Ele pensava: “Ué, mas eu vi Oiá ir atrás daquela árvore e de lá saiu um búfalo. Será que Oiá... não, não, não. Isto não é possível”.

Ogum, com toda a força que tinha em seu corpinho de menino, corria atrás do búfalo para ver até onde ele iria. Até que o búfalo parou. Ogum também parou e rapidamente se escondeu. 

Viu o búfalo olhar para os lados quando, de repente, o búfalo ficou em pé apoiado nas duas patas traseiras e, com uma das patas dianteiras, pegou um dos chifres e o ergueu na direção do céu.


A pele de búfalo foi se soltando do corpo e por baixo dela estava...
- Oiá! – gritou Ogum, saindo de seu esconderijo.
- Ogum, seu danadinho. Você me seguiu – falou Oiá.
- Quer dizer que este é o seu segredo de força, de determinação, de graça e beleza? – perguntou Ogum.
Ao que Oiá respondeu:

- Toda menina, toda mocinha e toda mulher tem dentro de si a força e o poder de um animal selvagem sagrado que, em certos momentos, devem ser colocados para fora, devem explodir para o universo com a mensagem de que fazemos parte de tudo isto. 

Quando colocamos essa força para fora, muitos meninos e meninas, mocinhos e mocinhas, homens e mulheres não compreendem e, por isso, devemos mantê-la em segredo.

-Então, este será o nosso segredo, minha querida princesinha Oiá. Eu a saúdo. Eparrê, Oiá!


 Para ler mais sobre Oyá ou Iansã:






Ogum:







segunda-feira, 25 de novembro de 2013

I- Prevenções, conclusões e prioridades de final de ano

Prevenção do dia:

Não caia na Síndrome de final de ano:

A Síndrome afeta certas pessoas nesta época do ano e tem como característica o ruminar sobre o que não se conseguiu fazer ou alcançar durante o ano.


Saiba, há uma legião de pessoas com esses sentimentos, então fuja deste grupo, você não faz parte dele, e aproveite para refletir sobre o que realmente importa na sua vida.

Particularmente, o que mais me importa neste momento é a saúde do meu filho.
Com a chegada do final do ano, vou aproveitar para pedir à todos os santos, saúde para ele.
 
E torcerei que me seja concedida a graça de aceitar o que eu não possa mudar.

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domingo, 24 de novembro de 2013

Mitologia Iorubá -Oduduá e a briga pelos sete anéis - Consciência Negra e mulheres


Estas duas últimas semanas a Escola em que atuo desenvolveu a temática sobre a Consciência Negra. Entre outras atividades, apresentei aos alunos 3 lendas da mitologia Iorubá; e a opção por estas histórias e não outras, é que estas enfocam o poder e a força do feminino.

A maioria das histórias apresentadas neste blog foram lidas, contadas e trabalhadas com os alunos em sala de aula. 

Assim como muitos dos livros infantojuvenis aqui apresentados são publicações enviadas pelo MEC às Escolas públicas.








Em uma das versões da mitologia Iorubá, Oduduá se refere a um orixá feminino,  a esposa de Oxalá, rainha da Terra. Já outros a classificam como sendo uma qualidade do próprio Oxalá.

Na história abaixo, parte da vertente que considera Oduduá uma divindade feminina, da criação e do útero da terra. 
Ela é considerada, ao lado de Obatalá como o casal primordial e propulsor da criação. 

O universo é visto dentro do culto aos Orixás como uma grande cabaça, e esta é representada por Oduduá e Obatalá.




Oduduá é a parte de baixo da cabaça e Obatalá é considerado como a parte de cima.

Nos primórdios da criação a única coisa existente nos mundos era o Olorun a grande energia primordial. Oduduá, surgiu do corpo de Olorun, assim como Obatalá e outras divindades.

Foi Oduduá quem criou a Terra e todo o universo ao lado de Obatalá, eles possibilitaram o surgimento da vida.



Oduduá e a briga pelos sete anéis



Oduduá tinha uma beleza rústica e não gostava de se enfeitar. 
Ela era a Terra e tinha a força da Terra e a cor da Terra. Desde criança, Oduduá só teve dois desejos: ficar para sempre a habitar a sua cabaça e possuir os sete anéis. 
Possuía como atributos a rapidez e a determinação. Era uma guerreira que saía em busca do que desejava. Suas cores preferidas eram o marrom e o vermelho.

Oduduá era uma princesa linda e Obatalá era um lindo príncipe.
Antes de o Céu e a Terra existirem, eles já existiam e moravam dentro de uma cabaça.
A cabaça não era grande e eles tinham que viver muito apertados lá dentro e um tinha que ficar em cima do outro.


Todas as noites, o príncipe Obatalá decidia que a princesa  Oduduá deveriam dormir embaixo dele.
- Princesa Oduduá, ordeno que você durma novamente embaixo de mim – exclamava Obatalá.
 - Príncipe Obatalá, eu ordeno que você pare de ordenar. Temos que chegar a uma decisão comum- retrucava a princesa Oduduá.

Mas  isso não era o suficiente para o príncipe Obatalá mudar sua forma de agir. Tudo tinha que acontecer do jeito que ele havia planejado.
Eles ganharam de um parente próximo sete anéis de ouro e tinham que dividi-los. Mas sete é número ímpar e sua divisão não dá um número igual para cada pessoa.



O príncipe Obatalá ordenou:
- Quem dormir em cima fica com quatro anéis nos dedos; quem dormir embaixo fica com três anéis nos dedos. Eu ordeno que, novamente, eu durma em cima, porque eu sou a pessoa certa para ser o Senhor dos Anéis.
E assim foi feito. E foi feito assim por muito tempo. 

Um dia, antes  de decidirem quem ficaria com os três ou quatro anéis, a princesa Oduduá falou:
- Príncipe Obatalá, eu não aceito mais esta imposição sobre mim.  Não é por que você é homem que deve sempre ter sua vontade atendida. Sou mulher e tenho meus direitos do mesmo jeito que você os tem.
- Penso que, por ser homem, somente eu devo ter direitos. Sendo assim, ordeno que você se deite novamente embaixo de mim e eu ficarei com os quatro anéis nos dedos – respondeu o príncipe Obatalá.


A princesa Oduduá, irada, partiu para cima dele numa briga sem-fim. Enquanto lutavam, tentavam cada um pegar os anéis, sem sucesso. 

Lutaram, mas lutaram tanto que a cabaça se rompeu em duas partes. 
Conforme a cabaça se rompeu, a parte de cima dela foi projetada para o espaço juntamente com o príncipe Obatalá; e a parte de baixo permaneceu lá com a princesa Oduduá. 





E os anéis? Bem devem estar espalhados pelo mundo.
Foi quando o príncipe Obatalá gritou, olhando para baixo:
- Oduduá, eu sou o Senhor do Céu. Estou acima de você e vou olhá-la para sempre.
- Obatalá, eu sou a Senhora da Terra – respondeu Oduduá. – Estou embaixo de você e vou olhá-lo para sempre.

E foi assim que Céu e Terra se separaram: a partir de uma briga. E os sete anéis continuam espalhados pelo mundo. Quem será capaz de encontrá-los?
                                                                 Lenda retirada do Livro:
 "OMO-OBA- Histórias de princesas" 
de Kiusam de Oliveira





quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Wangari e as árvores da Paz





Para conhecer melhor a força, a luta e a mulher Wangari, compartilho abaixo a história de "Wangari e as árvores da Paz" de Jeanette Winter.





A terra estava despida. 

Para mim, a missão

era tentar voltar a cobri-la de verde.

Wangari Maathai










Wangari vive sob as árvores, a sombra do Monte Quênia, na África.


Ouve o cantar dos pássaros na floresta, sempre que vai com a mãe buscar lenha para cozinhar, e ajuda-a apanhar as batatas-doces, a cana-de-açúcar e o milho da terra fértil.


Wangari é boa aluna e quando cresce, alta como as árvores do bosque, ganha uma bolsa para estudar nos Estados Unidos.


Seis anos depois, acabado o curso, regressa à casa, no Quênia, e vê que muita coisa mudara.


“O que aconteceu?”, interroga-se. “Onde estão as árvores?”


Wangari vê as mulheres curvadas sob o peso da lenha que tiveram de ir buscar a quilômetros e quilômetros de casa. 
Vê a terra despida, em que nada cresce.

“Onde estão os pássaros?”


Milhares de árvores foram cortadas para construir edifícios, mas ninguém plantara novas árvores em substituição.


“O Quênia inteiro irá converter-se num deserto?”, pergunta-se.

Wangari pensa na terra seca.


“Posso começar por semear algumas árvores aqui no meu quintal, uma a uma”.

Começa com nove.


Ao ver os pequenos caules ganhar raízes, Wangari enche-se de ânimo para continuar a plantar e inicia um viveiro. 
Num descampado, Wangari planta pequenas árvores, fiada atrás de fiada.


Em seguida, convence as mulheres das aldeias de que plantar árvores e algo de bom. Dá uma pequena árvore a cada uma.


— Verão que nossa vida será melhor quando voltarmos de novo a ter árvores. 
Estamos a lançar a terra sementes de esperança.


As mulheres espalham-se pelas suas aldeias e plantam longas fiadas de pequeninas árvores que se estendem como um cinto verde por todo o campo.

Os funcionários do governo riem-se.


— As mulheres não são capazes de o fazer — dizem eles. — Só os serviços florestais é que sabem plantar árvores.


As mulheres ignoram a troça e continuam a plantar.


Wangari paga-lhes uma pequena quantia por cada planta que tenha pegado ao fim de três meses depois da plantação. E a primeira vez na vida que ganham dinheiro.


               



A palavra corre como o murmúrio do vento entre a ramagem: o verde voltou a aldeia de Wangari.

Depressa as mulheres de outras cidades, aldeias e povoados do Quênia começam também a plantar longas fiadas de pequenas árvores.

Porém, o abate não para.


Wangari opõe-se, firme como um carvalho, a fim de proteger as velhas árvores que ainda restam.

— Precisamos mais de um parque verde do que de um prédio de escritórios.

Mas os funcionários do governo não estão de acordo.


Wangari impede-lhes a passagem. E presa é metida na cadeia, sob a acusação de ser uma agitadora.

Wangari mantém-se firme.


“O que é correto é correto, mesmo que se fique só”.

Mas Wangari não esta só.


O seu apelo a favor das árvores espalha-se por toda a África, como as ondas na água do lago Vitória.


Muitas mulheres inteiram-se da notícia e plantam ainda mais árvores em fiadas cada vez mais longas.

Os caules ganham raízes e crescem bem alto, a ponto de haver mais de trinta milhões de árvores onde antes não havia nenhuma.


A floresta verde do Quênia renasce.


As mulheres já caminham de cabeça erguida e costas direitas, agora que podem apanhar lenha perto de casa.


A terra já não está seca.


Batata doce, cana-de-açúcar e milho crescem de novo na terra escura e fértil.

No mundo inteiro ouve-se falar das árvores de Wangari e do seu exército de mulheres plantadoras.

E quem subir ao cume do Monte Quênia verá milhões de árvores a crescer lá embaixo, o verde que Wangari fez renascer na África.







NOTA DO AUTORA


Wangari Maathai, nasceu em 1940, no Ihithe, uma pequena aldeia na verde e fértil terra do Quênia.

Wangari era uma estudante brilhante e ganhou a “bolsa de estudos Kennedy,” o que lhe permitiu tirar uma licenciatura e um mestrado em Ciências Biológicas nos Estados Unidos. Regressou ao Quênia para concluir os estudos na Universidade de Nairobi. Foi a primeira mulher na África Oriental a tirar um doutoramento. 


Wangari iniciou o Movimento Verde do Quênia em 1977, no Dia Mundial do Meio Ambiente, plantando nove pequenas árvores no quintal atrás da sua casa. 

Foi a primeira ação para contrabalançar a massiva desmatamento do seu país. 
Com a falta de árvores, a vida diária do campo mudara, especialmente para as mulheres: a lenha para casa era escassa, a terra estava em erosão e empobrecida e não havia água potável. O deserto avançava, arrasando campos onde outrora houvera árvores e colheitas abundantes.


Wangari recrutou mulheres da sua aldeia para a ajudarem a plantar mais árvores. Em 2004, já tinham plantado trinta milhões de árvores, havia seis mil viveiros no Quênia, oitenta mil famílias viram os seus rendimentos aumentados e o movimento já tinha se estendido a trinta países africanos.


Wangari Maathai ganhou o Prêmio Nobel da Paz 2004, pelo seu contribuição para a paz no mundo através do Movimento Verde. 
Na tradição africana, a árvore é um símbolo de paz. Ao saber que tinha ganho o prêmio, Wangari plantou no sopé do Monte Quênia uma Nandi flame, árvore africana. 
No seu discurso de aceitação do Prêmio Nobel, disse:


"Temos de curar as feridas da Terra…

Só assim curaremos as nossas próprias feridas.

Temos de abraçar a criação em toda a 

sua diversidade, beleza e maravilha."

Wangari Maathai