Em 2011, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) e a Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente (SNPDCA), realizaram uma pesquisa em 75 cidades do país, abrangendo capitais e municípios com mais de 300 mil habitantes.
A pesquisa identificou quase 24 mil crianças e adolescentes em situação de rua nestes municípios.
Sabemos que este número podem ser questionados por causa da metodologia utilizada, e acreditamos como muitos que o número de crianças e adolescentes em situação de rua pode ser muito superior ao levantado na pesquisa.
Dessas:
- 59,1% dormem na casa de sua família (pais, parentes ou amigos) e trabalham na rua;
- 23,2% dormem em locais de rua (calçadas, viadutos, praças, rodoviárias, etc.), 2,9% dormem temporariamente em instituições de acolhimento e 14,8% circulam entre esses espaços.
Nas ruas crianças e adolescentes do sexo masculino são predominantes 71,8%.
A faixa etária mais frequente é entre 12 e 15 anos 45,13%.
Quase metade das crianças e dos adolescentes em situação de rua 49,2% se declarou parda ou morena e se declararam negros 23,6%, totalizando 72,8%, proporção muito superior à observada no conjunto da população.
Principais motivos declarados pelas crianças e adolescentes que dormem na rua para explicar a saída de casa:
- a violência no ambiente doméstico, com cerca de 70%: brigas verbais com pais e irmãos 32,2%;
- violência física 30,6%;
- violência e abuso sexual 8,8%.
- 13,8% do universo total das crianças e dos adolescentes em situação de rua, não se alimentam todo dia.
Mais de 65% das crianças e adolescentes exercem algum tipo de atividade remunerada:
- 39,4% - venda de produtos de pequeno valor - balas, chocolates, frutas, refrigerantes, sorvetes;
- 19,7%- o cuidado de automóveis como “flanelinha”, a lavagem de veículos ou limpeza de vidros dos carros em semáforos;
- 16,6%- a separação no lixo de material reciclável;
- 4,1%- a atividade de engraxate.
Essas crianças e adolescentes em situação de rua, na sua maioria, trabalham para sobreviver.
E um terço, 29,5% das crianças e adolescentes pedem dinheiro ou alimentos para sobrevivência.
A Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 atribuírem a responsabilidade pelo desenvolvimento saudável de meninos e meninas ao Estado, à sociedade e à família.
Mas, todos sabemos que ainda estamos anos luz para que as políticas públicas contemplem e atendam com resolutividade as questões dessas crianças e adolescentes em situação de rua.
Fonte dos dados: Conanda
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Nesta semana da criança postarei algumas sugestões de livros de literatura infantil com o foco na criança e na infância.
Iniciaremos com o livro: RAP RUA, de Douglas Silva Lima, com projeto gráfico de Angela Lago.
Ao realizar a leitura das ilustrações, lembrem-se dos semáforos das nossas cidades e dos meninos e meninas em situação de rua.
De manhã, com olhos ainda de remela,
Preciso de um jaco* para espantar
Por outro lado sinto o frio do alívio.
Carrego com orgulho um coração puro.
Olha aqui, meu pesadelo é um modelo comum
Olhe para mim, olhe essa cena, é sempre assim.
Às vezes, por um momento, pelo reflexo do vidro,
Sou apenas mais um Menino de Rua,
No meu sonho de consumo
Sou Menino de Rua.
Abaixo link do Rap "Negro Drama" citado no livro:
http://www.youtube.com/watch?v=7Kni_KvBhMI
"Entre o gatilho e a tempestade,
Sempre a provar,
Que sou homem e não covarde.
Que Deus me guarde,
Pois eu sei,
Que ele não é neutro,
Vigia os rico,
Mas ama os que vem do gueto,
Eu visto preto,
Por dentro e por fora,
Guerreiro,
Poeta entre o tempo e a memória"
Trecho da música Negro Drama dos Racionais MCs
O autor Douglas Silva Lima e a professora Andréa Vieira de Jesus foram finalistas do Primeiro concurso Cena de Rua*.
* Postarei sobre o livro Cena de Rua nesta semana no blog.
De manhã, com olhos ainda de remela,
Vejo um resto de lua e olho a rua:
O que vejo?
Vários camaradas andando por aqui e por ali
Usando roupas e tênis que eu sempre quis.
Preciso de um jaco* para espantar
O frio e os meu calafrios.
Se chover vou precisar de uma sombrinha
E quem sabe de um boné porque não sou mané.
Vejo também uma andorinha livre e leve a voar.
O que posso fazer a não ser ... trabalhar?
Até porque não tenho peito de ferro.
Se o Superman existisse e voasse neste céu
De abril, ele não salvaria o nosso Brasil.
Por outro lado sinto o frio do alívio.
Vejo a minha história
De fio a pavio.
Dolarico* não sou, fui ou serei.
O problema é o seguinte:
Como dez e dez são vinte,
Ando certo pelo certo.
Mas não tenho muita chance.
Meu lance é vender frutas antes que o carro avance.
Carrego com orgulho um coração puro.
Acredito que você já percebeu que
Apesar de toda a minha ingenuidade e pouca idade
Quem quiser comigo vai aprender
As leis da rua, as leis do mundo, do meu mundo
Sem lar e sem poder
Mas não dou a cara pra bater.
Olha aqui, meu pesadelo é um modelo comum
Pra quem vive na guerra como eu e não sabe o que é paz.
Não saber e nunca viu porque a paz, na verdade, nunca existiu.
Que Deus me guarde dentro da Sua mão.
Sei que Ele não é neutro.
Vigia os ricos, mas vela os que vêm do Gueto.
Olhe para mim, olhe essa cena, é sempre assim.
Roubam minhas frutas sem fazer alarde.
Mas tudo bem, não vou dar de colher.
Roubam minhas frutas, minha identidade.
Mas não deixo arrancar a minha fé
Na vida, apesar da dura lida.
Vejo meu sonho se concretizando, se realizando.
Depois caio na real e o sonho se espatifa como um cristal.
E minha mãe onde será que está?
Na lua? Na rua? Não sei, só sei que me deixou o mundo.
Me deixou no mundo sem ter para onde ir ou voltar.
Minha casa é o ar
A rua, o lado de fora.
Meu lugar é indo embora.
Sou apenas mais um Menino de Rua,
Mais um menino de rua.
Sabe? Sou o negro drama.
Fruto do negro drama
Vivo o negro drama
Entre os bacanas e a lama.
No meu sonho de consumo
Fumo a fumaça do logro
Imagino uma solução: o roubo.
Vejo tudo acontecer.
Viver sem fronteiras e talvez morrer.
Não, essa não é a melhor saída, é a pior.
Sei a história de cor.
Na rua, conheço as leis e os mandamentos.
Os becos, as esquinas, os fundamentos.
Sou uma peça rara.
A vida me pregou uma peça,
Sou ameaça de cara.
Sou um cara normal.
Mas me chamam de marginal,
De cão vadio, de ladrão.
Não sou nada disso não.
Aqui fala um cidadão.
Glossário:
Jaco=blusão
Doralico= pessoa de má indole
http://www.youtube.com/watch?v=7Kni_KvBhMI
"Entre o gatilho e a tempestade,
Sempre a provar,
Que sou homem e não covarde.
Que Deus me guarde,
Pois eu sei,
Que ele não é neutro,
Vigia os rico,
Mas ama os que vem do gueto,
Eu visto preto,
Por dentro e por fora,
Guerreiro,
Poeta entre o tempo e a memória"
Trecho da música Negro Drama dos Racionais MCs
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