domingo, 20 de outubro de 2013

Qual livro você seria?



"Renda-se, como eu me rendi. 
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. 
Não se preocupe em entender, 
viver ultrapassa qualquer entendimento."       
Clarice Lispector


Não costumo fazer testes de revistas ou da internet, mas uma vez encontrei um em um blog de literatura, que pretendia responder "Qual livro você é?"
 

Fiz duas vezes este teste (a 2ª vez, fiz meses depois da primeira) e deu o mesmo resultado: 


" A paixão segundo G. H.".

E você se tivesse que escolher um livro "Qual livro você seria?"





Trechos de “A Paixão Segundo G.H.” – Clarice Lispector


"Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar". 

(...)

“O que eu era antes não me era bom. Mas era desse não bom que eu havia organizado o melhor: a esperança. De meu próprio mal havia criado um bem futuro. O medo agora é que meu novo modo não faça sentido? Mas por que não me deixo guiar pelo que for acontecendo? Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela probabilidade.”

(...)

“Não sei o que fazer da aterradora liberdade que pode me destruir. Mas enquanto eu estava presa, estava contente? Ou havia, e havia, aquela coisa sonsa e inquieta em minha feliz rotina de prisioneira?”

(...)


“Quem sabe me aconteceu apenas uma lenta e grande dissolução? E que minha luta contra essa desintegração está sendo esta: a de tentar agora dar-lhe uma forma? uma forma contorna o caos, uma forma dá construção à substância amorfa.”

“… - então pelo menos eu tenha coragem de deixar que essa forma se forme sozinha como uma crosta que por si mesma endurece, a nebulosa de fogo que se esfria em terra. 
E que eu tenha a grande coragem de resistir à tentação de inventar uma forma."

(...)


"É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo. Se tiver coragem, eu me deixarei continuar perdida. Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo. Perder-se significa ir achando e nem saber o que fazer do que se for achando. Não sei o que fazer da aterradora liberdade que pode me destruir. Mas estou tão pouco preparada para entender. Mas como faço agora? Por que não tenho coragem de apenas achar um meio de entrada? Oh, sei que entrei, sim. Mas assustei-me porque não sei para onde dá essa entrada. E nunca antes eu me havia deixado levar, a menos que soubesse para o quê."


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