"Como um romance" de Daniel Pennac é um livro com um texto encantador e saboroso e, nos conta sobre a construção da relação de amor do leitor com os livros.
Romero Britto |
"O homem constrói casas porque está vivo, mas escreve livros porque se sabe mortal. Ele vive em grupo é gregário, mas lê porque se sabe só.
Esta leitura é para ele uma companhia que não ocupa o lugar de qualquer outra, mas nenhuma outra companhia saberia substituir.
Ela não lhe oferece qualquer explicação definitiva sobre meu destino, mas tece uma trama cerrada de convivências entre a vida e ele. Ínfima e secretas conivências que falam da paradoxal felicidade de viver, enquanto elas mesmas deixam claro o trágico absurdo da vida.
De tal forma que nossas razões para ler são tão estranhos quanto nossas razões para viver. E a ninguém é dado o poder para pedir contas dessa intimidade."
Daniel Pennac
Édouard Manet, 1832-1883 Woman Reading, 1879/80 |
Berthe Morisot 'Little Girl Reading |
O escritor Pennac propõe no seu livro, os 10 Direitos Imprescritíveis do Leitor. Como concordamos reproduzimos a ideia:
Direito n° 1: O direito de não ler
Para Pennac, sem esse direito, não existiria seu oposto. Ler seria, então, uma obrigação.
Direito n° 2: O direito de pular páginas
O leitor tem o direito de saltar partes de um livro que não são atrativas, sem que isso pareça um ato de traição.
Portraits of Two Children - Pierre-Auguste Renoir |
Direito n° 3: O direito de não terminar um livro
Ninguém deve se sentir inferior por não compreender certo tipo de narrativa ou não se sentir atraído por sua leitura. Ler é uma questão de gostos e sempre haverá outros livros à espera na estante.
Direito n° 4: O direito de reler
São muitos os motivos que nos levam a querer reler um livro: nos recriarmos naquilo que nos atraiu, nos reencontrarmos com o que nos encantou e nos encantarmos com o que permanece.
Two Young Girls Reading - Pierre-Auguste Renoir |
Direito n° 5: O direito de ler qualquer coisa
Apenas lendo de tudo um pouco, teremos critérios de seleção de uma boa leitura. Além disso, gostos não se discutem.
Direito n° 6: O direito ao “bovarismo”
Este direito baseia-se na figura de Madame de Bovary, que se identificava tanto com as personagens dos livros que lia que chegava a agir como elas. Da mesma forma, devemos deixar livres nossos sentimentos e sensações ao ler um livro.
Young Girl in the Garden at Mezy - Pierre-Auguste Renoir |
Direito n° 7: O direito de ler em qualquer lugar
Todo espaço é apropriado para se começar a leitura de um bom livro.
Direito n° 8: O direito de ler uma frase aqui, outra ali
Qualquer leitor tem o direito de abrir um livro em qualquer página e se perder dentro dela quando se dispõe apenas desse momento.
Darren Thompson |
Direito n° 9: O direito de ler em voz alta
Pelo simples prazer de ouvir um texto ressoar, identificar o sabor de um som, ou simplesmente, dar vida às palavras.
Direito n° 10: O direito de calar
Ninguém é obrigado a dar opinião sobre o que lê.
A arte de ler
"O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até a presente linha.
Neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria."
Mario Quintana
Para Sartre a liberdade do ato da leitura consiste em abrir o livro; liberdade que continuarei a ter até o final pois:
" Posso despertar a qualquer momento, e sei disso; mas não o quero."
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