quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A lenda da mandioca e Desalambrar







Cozinhando mandioca recordei da minha infância, a minha família arrendava um terreno em frente a minha casa e o utilizava para plantar batata, milho, feijão, etc. 
Os produtos eram usados para a subsistência da família. 
Nesta pequena lavoura aprendi diversas coisas: como escolher uma rama sadia, cortá-la em mais ou menos 20 cm, em saber calcular o espaçamento adequado para plantá-la e ter assim o melhor rendimento. 

Óbvio que a minha mente inquieta me levou rapidamente a origem da mandioca e a uma lenda bastante conhecida. 

A mandioca é uma planta de origem sul-americana, cultivada desde a antiguidade pelos povos nativos deste continente.





A mandioca é alimento principal de várias culturas indígenas. 
Os alimentos básicos vem cercados de estórias miraculosas, que ressaltam sua importância para a vida do povo. 
Assim acontece com o milho, a batata, o arroz e o trigo. As religiões tomam alguns desses alimentos e os transformam em sacramentos, que sinalizam a vida eterna, anseio de todos os sonhos.

Na cultura Tupi-Guarani, guarda-se uma bela estória da origem da mandioca.


A mandioca, o corpo de mandi


Em tempos muito antigos, a filha de um chefe indígena, apareceu misteriosamente grávida. 
O chefe quis punir quem desonrara a filha. Para saber quem era, pressionou-a fortemente com ameaças e severos castigos.   
Ela permanecia inflexível não dizendo o nome e afirmando que não tivera relação com homem algum.
O chefe resolveu então matá-la, para vingar a honra e para dar uma lição a todas as moças da tribo. 

Ele  então, sonho com um homem branco, que lhe dizia:
- Não faça isso. Não mate a sua filha. Ela é inocente. Jamais teve relação com nenhum homem.
Ele temeroso desistiu de matá-la.
Após nove meses, nasceu uma linda menina. Sua pele era branca como a nuvem mais branca.
Mandi era seu nome. Todos ficaram intrigados e amedrontados quando viram a cor de sua pele.
- É um triste presságio. Desgraças virão sobre nossa tribo e sobre nossas plantações.

A tribo pediu ao Cacique para fazer desaparecer a sua neta, afirmando que ela traria desgraças para todos.
A noite o Cacique levou a neta ao rio, lavou-a nas águas e suplicando as forças dos espíritos benfazejos.
No dia seguinte reuniu a tribo e disse que os espíritos tinham recomendado que Mandi ficasse entre eles.

Os índios obedeceram e com o passar do tempo, Mandi foi crescendo e todos acabaram se apaixonando por ela.

Um dia simplesmente ela morreu. 
Foi um lamento geral. Resolveram enterrar Mani na maloca do seu avô. Ele chorou dia e noite sobre a sepultura da menina. 
Foram tantas lágrimas que do chão brotou uma plantinha.
Os pássaros vinham bicá-la e ficavam inebriados, até que um dia a terra se abriu, e as raízes de uma planta surgiu.
Todos comentavam: como as raízes são negras por fora e por dentro são alvíssimas.



Os índios colheram as raízes, que pareciam a pele de Mandi, comeram e descobriram que eram deliciosas.
E inspirados concluíram que aquelas raízes seriam a vida de Mandi se manifestando.

E foi assim que a Mandioca se transformou no principal alimento dos índios Tupi-Guarani e de outras tribos. 
Mandioca significa “a casa de Mandi” ou o “ corpo de Mandi”.


Lenda retirada do livro “ O casamento entre o céu e a terra”- Contos dos povos indígenas do Brasil
De Leonardo Boff




Abaixo, uma outra versão indígena da lenda da Mandioca. Vídeo com encenação da lenda em libras.

http://www.youtube.com/watch?v=uC_jR7Dtffs

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Desalambrar

“Desalambrar", do espanhol, significa retirar os arames que cercam um território. 

Somos uma única Terra e os índios nos ensinaram que ela pertence a todos os seres vivos deste planeta. 
Os humanos recebem a terra apenas emprestada para seu usufruto, e possuem a responsabilidade de cuidá-la adequadamente. 

"Desalambrar" me faz lembrar disto ( a Pátria única) e ainda mais esta música na voz de Victor Jara.

Mas quem foi Victor Lidio Jara Martínez?

Nasceu em San Ignacio, em  28/09/1932 e foi morto em Santiago no dia 16/09 de 1973. Foi professor, diretor de teatro, poeta, cantor, compositor, músico e ativista político chileno.

Nascido numa família de camponeses, Jara se tornou um reconhecido diretor de teatro, dedicando-se ao desenvolvimento da arte no país, dirigindo uma vasta gama de obras locais, assim como clássicos da cena mundial. 
Simultaneamente, desenvolveu uma carreira no campo da música, desempenhando um papel central entre os artistas neo-folclóricos que estabeleceram o movimento da Nueva Canción Chilena, que gerou uma revolução na música popular de seu país durante o governo de Salvador Allende. 
Também era professor, tendo lecionado Jornalismo na Universidade do Chile.
Logo após o golpe militar de 11 de setembro de 1973, Jara foi preso, torturado e fuzilado. Seu corpo foi abandonado na rua de uma favela de Santiago.








Não Esqueceremos Jamais! 

Salve, Victor Jara!

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