Comecei a trabalhar a temática "Consciência Negra" para o sábado integrador na Escola, o primeiro livro infantil escolhido foi:
Raio de Sol, Raio de Lua
De: Celso Sisto
Ilustração: Maurício Negro
Muito tempo atrás, quando o
Sol e a Lua eram crianças, costumavam acompanhar seus pais no trabalho. As duas
famílias eram amigas e saíam todos os dias, muito cedo, para cultivar seus campos,
que ficavam muito longe.
A família do Sol ia para o
Leste e cultivava o milhete. A família da Lua ia para o Oeste e cultivava o
sorgo.
E, depois de trabalhar o dia
inteiro, quando voltavam para casa, ao entardecer, acabavam se encontrando no
meio do caminho.
A alegria tomava conta das
duas famílias, que depois das saudações, punham-se logo a conversar. Os homens
combinavam de ir caçar, e já sonhavam com avestruzes, búfalos e antílopes.
As
mulheres, só de falar, sentiam o cheiro de comidas saborosas que gostavam de
preparar e enchiam a boca d’água com as lembranças de seus bolinhos de milho,
arroz ou atum.
E as crianças iam correndo a frente, chupando limas, enquanto brincavam de pular e cantar. Pulavam, apontavam e contavam os pássaros do caminho:
- Lá vai um grou-coroado!
- Ali está um calão-terrestre!
- Veja se não é um pelicano-branco?
E, correndo, chegavam logo ali à frente do tronco da acácia, onde o riacho formava um poço. Era ali que costumavam parar para descansar.
Sentados à sombra da árvore, dividiam a comida que havia sobrado do almoço: peixe defumado, bolos de arroz e bolinhos com noz de coco, arrumados sobre folhas de bananeira.
Mas o Sol e a Lua, crianças
impacientes, não queriam saber de comer; queriam se refrescar nas águas e logo
saíam correndo para se atirar no poço do riacho, de roupa e tudo.
Depois era a vez das
mulheres, que sempre se afastavam um pouco, e, protegidas pelos arbustos,
entravam na água.
Em seguida, assim que as
mulheres retornavam para a sombra das acácias, iam os homens.
Um dia, tudo aconteceu como
de costume, mas, na hora do banho diário, o calor estava tão grande que as
mulheres foram na frente, antes das crianças. E todos sabiam que era proibido
chegar perto do rio nessa hora...
Mas, como as mulheres se
demoravam muito neste dia, as crianças resolveram chegar mais perto, para ver
se, com o barulho, as mães se apressavam em sair da água...
O Sol, que já era quase um
rapazinho, e a Lua, uma mocinha bastante espevitada, sempre muito amigos, se
aproximaram cada vez mais... e pegaram suas mães distraídas ainda dentro do
rio.
E puseram-se a rir, ao vê-las assim nuas, e com seus corpos à mostra! Riam
e riam.
O Sol não teve coragem de
olhar diretamente e baixou os olhos. Ficou com vergonha de olhar a mãe nua e se
afastou um pouco.
A Lua, mais curiosa, nem se
intimidou e ficou ali, olhando atrevidamente, a nudez de sua mãe. E ainda
dizia:
- Que coisa mais engraçada!
Rararárá... Veja aquela cicatriz no... Olha só aquela tatuagem no... Elas estão
cheias de manteiga de karité!
Mas o arbusto se mexeu, o
martim-pescador cantou e as mulheres souberam que estavam sendo observadas.
Imediatamente se enrolaram em
seus panos e turbantes e saíram da água.
A mãe do Sol, um pouco brava,
chamou seu filho e disse:
- Meu filho, você sempre me
respeitou. Por isso, desejo que o Deus Supremo te bendiga por isso.
O menino ia falar alguma
coisa, mas a mãe o interrompeu:
- Eu sei que seus olhos se
afastaram de mim enquanto eu me banhava desnuda e, por isso, quero que, a
partir de agora, nenhum ser vivo possa olhar pra você sem que sua vista fique
ofuscada.
Mas a mãe da Lua, nesse
momento, chamou também a sua filha e disse:
- Minha filha, você sempre
curiosa e sem limites. Quem mandou me desrespeitar, olhando-me enquanto eu me
banhava?
- Mas, minha mãe ... – ia
dizer a Lua, quando foi interrompida:
- Eu quero que, a partir de
agora, todos os seres vivos possam olhar para você sem que seus olhos sofram
nenhum dano nem se cansem...
E é por isso que, a partir
desse dia, o brilho e a luz do Sol não deixam a gente olhar para ele fixamente.
Ao contrário, para a Lua,
podemos olhar com insistência, sem que nossos olhos sofram dano algum!
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